6:08As Marias de Temer

por Célio Heitor Guimarães

Há um artigo do sociólogo, jornalista e doutor em geografia humana Demétrio Magnoli (“Duas Marias vão à guerra”), publicado na edição de sábado da Folha de S. Paulo, que todo brasileiro preocupado com a educação no Brasil, devia ler. Nele, referindo-se à presença de Maria Helena de Castro e Maria Inês Fini, na secretaria-executiva do MEC e na presidência do Inep, respectivamente, Demétrio, elogia a decisão e a ousadia do ministro Mendonça Filho, da Educação, destinada a “proteger os direitos dos estudantes contra a aliança entre a politicagem triunfante e o corporativismo sindical, grudados por uma gosma ideológica”.

Diante disso, prenuncia “uma guerra suja” contra as Marias. E justifica: “Maria & Maria têm uma plataforma para Educação. 1) Base curricular unificada, com foco no ‘aprender a aprender’; 2) Avaliação sistemática das escolas, baseada em metas definidas; 3) Qualificação permanente dos professores; 4) Bonificação por mérito para escolas e professores”.

Essa plataforma – prevê Magnoli – sofrerá “intensa sabotagem de camarilhas políticas, interessadas na colonização do sistema de ensino por cabos eleitorais, da burocracia aparelhada do MEC, consagrada a diversos tipos de doutrinação ideológica, e de associações sindicais de professores, avessas a distinções meritocráticas de remuneração”. Daí o imenso boicote das iniciativas das Marias.

O problema da Educação no atual Brasil é tão grave quanto o econômico e social. Talvez até mais grave, porquanto se sabe que a Educação é um dos alicerces fundamentais de um povo e de uma nação. No entanto, sempre – sobretudo nos últimos anos – vem sendo relegado a um patamar inferior, quase insignificante. Pior: de manipulação e doutrinação político-partidária e ideológica, sem nenhum compromisso com a Educação propriamente dita.

Rubem Alves, que dedicou grande parte da vida ao ensino universitário e que tinha a Educação como paixão que queimava dentro dele, olhava as escolas com desconfiança. Horrorizava-se com o fato de nossas universidades serem avaliadas pelo número de artigos científicos que seus cientistas publicam em revistas internacionais em línguas estrangeiras. E sublinhava: “Gostaria que houvesse critérios que avaliassem nossas universidades por sua capacidade de fazer o povo pensar”. Para ele, “educadores não estão a serviço de saberes. Estão a serviço de seres humanos”.

Ao que se tem notícia, as Marias do MEC de Michel Temer têm pensamento semelhante ao de Rubem Alves. Maria Helena – registra Demétrio Magnoli –, quando esteve a frente da Secretaria de Educação de São Paulo, de junho de 2007 a março de 2009, o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado (Idesp) registrou avanços em 70% das escolas. Para Maria Inês, “a maioria dos professores são heróis: dão 60 horas de aula por semana. É por isso que as melhores cabeças estão indo para outra área, menos para a sala de aula”.

A reação às Marias, segundo Demétrio, deverá partir de cima, posto que “em setembro de 2014, 54 reitores das [universidades] federais prostraram-se diante de Dilma Rousseff, oferecendo-lhe seus préstimos na campanha eleitoral”.

Resta saber, como também adverte Magnoli, até quando Maria & Maria contarão com o apoio do ministro Mendonça Filho e do interino Michel Temer. Infelizmente, o atual governo parece não ser capaz de resistir a pressões. A conferir.

P.S. – Há ainda uma terceira Maria em campo, de igual talento e da qual muito se espera: Maria Silvia Bastos Marques, que presidirá o BNDS de Temer.

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Uma ideia sobre “As Marias de Temer

  1. Zé Ninguém

    Faço votos que as três Marias nos ajudem a sair do buraco em que o pestismo nos enfiou nestes 13 anos de desgovernos. Mas também espero que os outros milhões de Marias se unam às três citadas e, unidas nos ajudem a retornar à estrada do crescimento, em todos os aspectos.

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