7:43Assédio sexual

por Tati Bernardi

Os mais conservadores diriam “ela sai de casa com uma roupa dessas e agora reclama?”, os mais machistas diriam “você deve ter feito algo pra merecer isso”, mas o fato é que estamos em 2016 e eu gostaria de reforçar o meu direito a usar blusa de lã com gola alta, moletom um tamanho maior e calça saruel (e tênis) sem ter que ouvir o que eu ouvi.

Ele marcou um jantar. Veja bem: não foi café da manhã ou almoço ou chá da tarde. Foi um jantar. E tem mais: não era pizzaria com luz de interrogatório policial e nem mesa compartilhada no Bar Balcão ao lado de artista global fazendo teatro cabeça pra equilibrar o carma. Era luz de velas, Nina Simone, vinho, a porra toda.

Foi horrível. Ele pegou na minha mão, lá pras 11 da noite, naquele momento em que toda boa moça espera ouvir “estou doido de tesão e essa calça tá me matando, não quer ir lá pra casa me ajudar a tirá-la” e disse: “Eu tenho um avô extraordinário e adoraria que alguém escrevesse a história dele”.

Achei desrespeitoso, grosseiro, pensei em explicar que não estava lá pra isso, quem ele pensa que é, mas na hora, imobilizada pelo susto, soterrada pela vergonha (a gente sempre acha que a culpa é nossa, não tem jeito), só consegui me sentir muito fraca e com medo. É muito cansativo ter que provar o tempo todo que sou uma mulher bonita com uma vagina quando os homens só conseguem ver livros, roteiros, colunas, vendas e bilheterias. Olha esse decote, benzinho. Espera, vamos discutir aqui o capítulo oito. Sabia que eu tenho um alongamento impressionante e. Você acha que entrega até agosto? O alongamento? Não, o texto.

Estou cansada. Talvez eu vá pra Paulista com uma faixa “empoderada eu já sou, agora preciso é ser encoxada no tanque” ou use uma cabeça de Teletubbies com uma camiseta: “Pare de prestar atenção lá em cima, eu também tenho outras partes do corpo que são bem divertidas!”.

Mas o macho branco opressor continuou: só você pode contar a história desse imigrante pobre e lutador que chegou aqui sem ter o que comer e construiu um império. Zzzzzzzzz. Deixa eu te contar a história de uma mulher pobre e lutadora que, depois de duas intermináveis reuniões, correu pra fazer uma depilação a laser em lugares só alcançáveis mediante posturas bem humilhantes, tirar os pelos do buço com linha (pior dor já sentida em vida) e se besuntar tal qual uma palhaça num maravilhoso e caríssimo óleo de lavanda Weleda. Tudo isso pra gente discutir, vestidos, a saga de um velhote? Hashtag chega de trabalhar! Minha vaidade não suporta mais ser violentada em silêncio todos os dias.

Tentei lutar. Mordi o braço dele, fui contar um segredo em sua orelha e aproveitei pra dar uma pequena lambidinha (que tava amarga, homem não sabe lavar a orelha). Ops, caiu meu guardanapo. Ops, desculpa, meu cotovelo encosta em cada lugar. Mas não teve jeito. Ele segurou meu antebraço, aquela mão mole, aquela passividade intragável do intelectual cordial. E riu. Eles sempre riem. “Ah como você é engraçada”. Ah se você soubesse como posso ser muitas outras coisas. E usou o argumento que, por fim, mesmo sendo tão ofensivo, sempre me fazia ceder: escreve vai, escreve gostoso, eu pago bem.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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3 ideias sobre “Assédio sexual

  1. Sergio Silvestre

    Ele era o “principe”que traiu o Pai para ficar com o Trono,mas no alto dos seus 62 anos queria uma princesa linda e jovem.Eis que no reino vizinho tinha a princesa que ele queria e com isso fizeram a união do reino com esse casamento mesmo ele sendo 43 anos mais velho.
    No dia da noite de nupcias,a jovem princesa ardia de tesão,se ralava pelas paredes enquanto o já maduro príncipe roncava copiosamente babando pelos cantos da boca.
    Na segunda noite ela lhe deu uma porção de assai e muito ovo de pato,mas alem do sujeito broxar novamente ,lhe deu uma grande caganeira.
    Na terceira noite o velhote roncava e a princesa no alto dos seus 19 aninhos saiu pelos corredores do Palácio e foi até a cozinha beber uma agua fria para ver se passava seu calorão.
    Mas ao adentrar pela porta se deparou com o negro garção do Palcio filho da aia de companhia so de ceroulas branca com um volume descomunal se destacando no cós da vestimenta.
    A jovem princesa não se fez de rogada,caiu nos braços daquele Deus de Ébano e sentiu o maior prazer que estava contido.
    Assim se seguiu por muito tempo,enquanto o velho príncipe roncava ela se saciava do seu fogo na ferramenta monstruosa do negro garção do palácio.
    Deste relacionamento nasceu um lindo menino moreno,que mais pra frente se tornou o primeiro rei negro daquele Pais.
    “QUALQUER SEMELHANÇA COM ALGUMA COISA QUE ACONTECE NO BRASIL É MERA COINCIDÊNCIA”

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