5:10À jogatina, pessoal!

por Célio Heitor Guimarães

A quadrilha do jogo voltou a assanhar-se. Desconfiei que havia algo no ar quando ouvi Amaury Júnior, aquele da TV, anunciar uma entrevista com Ciro Batelli, o embaixador dos cassinos de Las Vegas no Brasil. Amaury é soldado da linha de frente do batalhão da liberação do jogo em Pindorama e está sempre vigilante e pronto para atender aos patrões. A um bom soldo, é claro.

No dia seguinte, leio que ministros do governo Michel Temer querem propor a legalização dos jogos de azar como medida para aumentar as receitas da União. Há pelo menos dois graduados auxiliares de Temer louquinhos pela ideia, gente da melhor qualidade, presente nas investigações da Polícia Federal: o “especialista” em turismo Henrique Eduardo Alves e o baiano Geddel Vieira Lima, da cozinha do presidente em exercício. Tudo em nome do turismo e da retomada da atividade econômica. Pois sim!

A justificativa, aliás, é a velha de sempre, tão estúpida quanto a pretensão: “Hoje o jogo existe de forma clandestina e sem gerar qualquer benefício para o Estado”. Se assim fosse, melhor seria legalizar desde logo o tráfico e o uso de droga, cuja demanda seria muito maior e geraria muito mais recursos.

Quem acompanha estes escritos, desde os velhos tempos do extinto O Estado do Paraná, sabe que voto contra a liberação de bingos, caça-níqueis, cassinos e assemelhados. Odeio o jogo. Mesmo que já tenha sido, no passado, campeão de truco – confesso. Com direito a medalha e tudo mais. O passar do tempo conscientizou-me. Hoje, detesto até víspora de igreja.

A minha ojeriza pelo jogo, no entanto, não resulta de nenhum drama pessoal. Jamais perdi um tostão em jogos de azar. Seja na loteria ou na sena oficializada. Razão: nunca joguei. E estou plenamente feliz por não formar no batalhão dos infelizes que todas as semanas aguardam a grande vitória que nunca virá.

Sempre fui um assalariado, satisfaço-me com a minha pobreza e não seria agora que resolveria ficar rico. E de uma hora para a outra. Em compensação, conheço muito bem os perversos efeitos da jogatina. Sou capaz de recitá-los de cor. Das simples inimizade entre amigos fraternos ao corpo de um suicida estendido no chão, passando pela ganância, pelo desespero e pela loucura.

Sei de uma tradicional família curitibana, cujos membros eram obrigados a buscar a matriarca nas madrugadas dos bingos de então e, certo dia, os filhos receberam uma conta que os fez desfazerem-se de seus carros para quitar a dívida da mãe.Tenho também amigos que perderam em uma mesa de pôquer tudo o que haviam conseguido amealhar em uma vida inteira de trabalho. Outro perdeu o apartamento em que vivia com a família em uma única rodada de cartas.

Mas não é uma questão de puritanismo. Ainda que seja sabido que, por trás do jogo, esconde-se o crime organizado, o tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro, a sonegação e a exploração de incautos, para dizer o mínimo.

Lembrai-vos de Waldomiro Diniz, que despachava no Palácio do Planalto, levado pelo companheiro José Dirceu, e que acabou flagrado recebendo propina para facilitar o funcionamento dos bingos? Diniz se faz merecedor, hoje, de homenagem por haver revelado, com sua conduta, o que se escondia por trás da inocente distração de velhinhos solitários.

Dizem que o presidente em exercício, em princípio, é “simpático à ideia”. No entanto, como ainda está na fase de muda, prefere não piar por enquanto.

Escuta aqui, ó recém chegado Michel! Em vez de ficar dando ouvido aos oportunistas que o cercam, aos lacaios de Batelli, aos trambiqueiros e aos exploradores da ignorância popular, ouça quem sabe das coisas. O Ministério Público, por exemplo. Ou as associações de jogadores compulsivos. Elas existem em todo o país. Ficará, então, sabendo, se já não sabe, que o jogo não é uma questão moral, mas eminentemente social.

Contudo, nesta formosa e mui gentil Vila N. S. da Luz dos Pinhais, ao que parece, o pano verde já se encontra estendido. Pelo menos é o que nos revela o sempre bem informado Reinaldo Bessa, que anunciou, em sua coluna da Gazeta, torneio de um tal clube de pôquer Texas Holdem, fundado em 2007 e em pleno funcionamento…

Cadê as autoridades?!

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