6:58E aí, velhinho?! Setentinha e oito…

pernalonga

por Célio Heitor Guimarães

Pernalonga. Lembram-se dele? Grande figura! O coelho mais esperto do cinema, quadrinhos e tevê. Pois é, o malandro Pernalonga completou 78 anos no sábado 30 de abril. E se não houve a festa que ele merecia, a data serviu para que os velhos apaixonados por cartuns e quadrinhos relembrassem com saudade de um dos mais animados personagens de sua infância.

Conheci-o nas páginas de Mindinho, da Ebal, de Adolfo Aizen. Acho que foi o primeiro gibi que li, depois de O Tico-Tico, lá pelo final da década de 40. Quer dizer, Pernalonga, Gaguinho, Frajola & Piu-Piu, Hortelino Trocaletra, Patolino e cia. chegaram a minha vida antes do Pato Donald e do rato Mickey, de Disney – suprema glória! –, embora esses últimos tenham nascido antes. E, por muito tempo, foram os meus personagens favoritos. Sobretudo o orelhudo de pernas compridas. Morava em uma toca, debaixo da terra, de onde saía para fazer das suas e/ou furtar uma cenoura da horta do pobre Hortelino. Gaguinho também era uma de suas “vítimas”.

Pernalonga (ou Bugs Bunny – que, segundo consta, foi inspirado no apelido de Ben Hardaway, diretor de animações da Warner Bros Cartoons), na verdade, nasceu no cinema. No curta-metragem “Porky’s Hare Hunt” (“A Caçada de Gaguinho ao Coelho”), de 1938. Ele era, então, todo branco, chamava-se “Happy Rabbit” (“Coelho Feliz”) e nem era o personagem principal. Seu criador foi o diretor de desenhos animados da WB, Tex Avery.

Além de animador, Tex (aliás, Frederick Bean) Avery, um texano, nascido em Taylor, era diretor de cinema, produtor, dublador e cartunista. E o seu grande mérito foi afastar-se do sentimentalismo dos desenhos disneyanos, sempre tão bem comportados e cheios de gente “bonitinha e fofinha”. De um modo geral, as criações de Avery eram “levadas da breca”, com destaque para as peraltices de Pernalonga e o nervosismo de Patolino, quase sempre à beira de um ataque de nervos. (Curioso: a última criação de Tex Avery foi Droopy, aquele cãozinho calmo, de fala mansa e movimentos lentos…)

Graficamente, o “pai” de Pernalonga e de toda a turminha da série Looney Tunes foi o desenhista Chuck Jones, que também ajudou a criar o veloz Bib-Bip e o seu incansável e frustrado perseguidor Coyote. Em mais de 60 anos de carreira e mais de 1,5 mil desenhos animados, Jones ganhou um Oscar em 1965 pelo curta “The Dog and the Line”, e outro, em 1966, pelo conjunto de sua obra.

Nos EUA, a voz de Pernalonga foi dada pelo ator Mel Blanc, que usou na fala um sotaque novaiorquino dos nascidos no Brooklyn, misturado com os do Bronx. Mel também “falava” por Patolino, Frajola, Piu-Piu Gaguinho e Ligeirinho, entre outros. Daí ter sido apelidado de “O homem das mil vozes”). No Brasil, a dublagem coube a Ronaldo Magalhães, Ary Toledo, Cauê Filho, Flávio Dias, Luiz Sérgio, Mauro Monjardim e Alexandre Moreno.

A expressão – “O que é que há velhinho?” (“Eh, what’s up, Doc?”, no original) –surgiu em 1940, no filme “Wild Hare” (“Caçada Maluca”), indicado para o Oscar, e se tornou a marca registrada do coelho, tanto na tela, quanto no vídeo e nos quadrinhos.

Não sei por onde andará Pernalonga, hoje; se novos desenhos e novos quadrinhos continuam a ser produzidos. No Brasil, às vezes, uma editora resolve reeditar algumas de suas velhas aventuras. A iniciativa, contudo, nunca dura muito. Uma das últimas tentativas foi da Panini Comics, em 2009, com histórias originalmente produzidas pelo selo infantil Johnny DC, da DC Comics. Os roteiros eram de Scott GrossEarl KressScott CunninghamRobbie Bush, e a arte de Walter CarzonMark ChristiansenDavid AlvarezLeo BaticMike DeCarlo.

O certo é que, em 1996, Bugs Bunny dividiu a tela com o astro do basquete Michael Jordan, ganhou um selo postal em 1967 e foi eleito, em 2002, pela revista TV Guide, o melhor personagem de desenhos animados de todos os tempos. O resto é periferia.

Feliz 78, velhinho!

 

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