7:19Dingobel na Venezuela

por Rogério Distéfano

A VENEZUELA inicia o racionamento de energia. Melhor, o corte de energia, que irá atingir as cidades maiores, a capital Caracas incluída. Durante quatro horas ao dia as cidades ficarão sem eletricidade. Ainda não se decidiu o modo, se horas contínuas, alternadas, de dia ou durante a noite. Apelos a Hugo Chávez, que reencarnado em passarinho fala com o presidente Nicolás Maduro, foram inúteis. Conselhos de Fidel Castro, nume tutelar da esquerda latina, vieram em espanhol incompreensível, turbado pelas próteses da augusta boca.

A ENERGIA elétrica é um de tantos casos de escassez na Venezuela. Para citar poucos, os emblemáticos: falta leite, itens de asseio e limpeza, até a gasolina – o país, grande produtor, extrai petróleo pesado, que exige tratamento no Exterior para habilitá-lo ao consumo. Há tempo os venezuelanos enfrentam filas para comprar papel higiênico. Enquanto a falta do papel é impensável em países capitalistas, ela representa o cotidiano das economias socialistas e generosas como as de Cuba e Venezuela.

FERNANDO MORAIS, escritor, petista, socialista, insuspeito amigo de Cuba, descreve em seu ‘A Ilha’, o best-seller sobre sua visita ao paraíso castrista, a dificuldade que enfrentou no item papel higiênico ao se hospedar em hotel de Havana. No banheiro do quarto não havia papel higiênico e Morais, constrangido, cheio de dedos, reclamou na portaria que sem o item “no si puede” – a frase dispensa explicação ou tradução. O porteiro, calejado pela escassez e pelas reclamações, limitou-se a responder, não sem ironia: “Si, se puede”.

ANTES de fazer causa comum e ver golpes e conspirações da direita na escassez venezuelana, esperemos a palavra das organizações multilaterais latinas – Unasul, Mercosul, Cruzeiro do Sul, Agudos do Sul, Bocaiúva do Sul. Nesta hora, a solidariedade latina deve apresentar propostas que atenuem os efeitos colaterais da escassez cumulativa de eletricidade e papel higiênico. Por exemplo: fazer as necessidades de dia, à luz do Sol. À noite, sem eletricidade e sem papel, os venezuelanos não saberão a qualidade e a extensão do asseio.

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