20:57ZÉ DA SILVA

Na reunião sempre sento ao lado dela, avó, sorriso iluminado, silenciosa, roupas coloridas, uma história para contar, só pra mim, de vez em quando. Roberto Carlos no cruzeiro singrando o oceano, por exemplo. Ouvimos alguns relatos e, quando posso, pergunto baixinho o que estamos fazendo ali, pessoas de fino trato, em meio a tantos malucos. Ela ri sempre – não falha. É uma mulher feliz que, no passado distante, dona de casa, tentava esconder do mundo, mais precisamente dela mesmo, que bebia duas garrafas de vodca por dia e se achava criativa, pois escondia o líquido em garrafas de água na geladeira, para disfarçar. Não disfarçava. Quando o marido começou a flagrar, enchia várias colocava em lugares diferentes, para o caso de alguma ser descoberta e sobrar as outras. Conta isso com o semblante tranquilo de alguém que está há décadas cuidando da vida e controlando sua doença. Ao ouvir relatos alucinados e malucos de outros integrantes de nosso time especial, completo minha gozação: “E a gente é que era louco…” Ela ri mais e me passa a certeza de que estamos trilhando o caminho certo.

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