19:07ZÉ DA SILVA

Nijinski voou e as cortinas do palco se transformaram em asas. Tudo desapareceu, menos eu – e a poltrona. No meio de um deserto esquadrinhado pela câmera de Sergio Leone – no caso, meu olhar passando informações para ninguém. Falar para quem? A música, contudo, continuou como nestes cinemas imitando salas antigas dentro de caixas de concreto. O volume aumentando, o sol pregado acima da linha do horizonte, mas o frio do ar condicionado transformando tudo em gelo. Pensei nas lágrimas penduradas nas calhas, como descreveu um desses escritores aí, para a gente ver e sentir. Nijinski apareceu de novo, mas sem o teatro. Voando contra o céu de um azul intenso. Parado no ar. Aplaudi. E tudo sumiu. Ficou o frio.

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