6:52Um imenso vazio à frente

por Célio Heitor Guimarães

Não vou enaltecer, aqui, como se poderia supor, o desenlace ocorrido no último domingo na Câmara dos Deputados. O espetáculo foi dantesco e entristeceu todas as pessoas de bem. Não tanto pelo resultado, que foi o esperado, mas pela conduta circense e constrangedora da maioria dos eminentes parlamentares, comandados pelo ínclito presidente da casa.

Prefiro recordar que, quando Dilma Vana Rousseff venceu o segundo turno das eleições que lhe garantiam um novo mandato presidencial, em outubro de 2014, escrevi aqui neste puxadinho cedido pelo Zé Beto: “A segunda-feira nasceu silente. O canto matutino do galo – na ala consciente, informada, trabalhadora e produtiva da Nação brasileira – foi substituído pelo Toque de Silêncio, executado a distância por um melancólico clarim”.

“Pois é, Dilma venceu” – continuei. “E o Brasil? A resposta está na fotografia da festa de comemoração de vitória em um hotel de Brasília, onde a ‘presidenta’ vitoriosa não teve sequer a grandeza de referir-se ao adversário derrotado, mas se viu cercada pela fina-flor da vida político-administrativa do país – em boa parte da qual a polícia, o Ministério Público e a Justiça estão de olho”.

Essa fina-flor ajudou Dilma a afundar o Brasil. E domingo ajudou a derrubá-la. Repito o que também já disse aqui: nunca houve, na história deste país, um supremo mandatário tão desmoralizado quanto a atual “presidenta”. Em seu choramingo, ela proclama que não roubou, não integra nenhuma lista de corruptos e nem tem contas bancárias no exterior. De fato, até agora não se provou nada em contrário – ainda que as investigações continuem avançando. Mas, na ânsia da reeleição, Dilma quebrou o Brasil. E mentiu aos brasileiros. Gastou irresponsavelmente mais do que poderia e tentou mascarar a situação avançando nos cofres do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, sem condições de ressarcir o rombo. Com o mesmo objetivo, expediu decretos de despesas sem a prévia autorização legislativa. A isso chamou-se “pedaladas fiscais”, e, ao acionar o pedal (como é de seu costume matutino), s. exª. desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal e cometeu crime de responsabilidade, capaz de apeá-la do trono, como está apeando.

Não fosse por isso, como todo mundo sabe, a criatura inventada pelo mago Luiz Inácio perdeu todas as condições para governar o Brasil (se é que algum dia teve alguma). Perdeu o rumo, a autoridade, o apoio político e a força das ruas. Não roubou a Petrobras, mas permitiu que o fizessem, bem debaixo do seu nariz. Quando presidia o conselho de administração da empresa, foi alertada por um executivo da petroleira que a compra da refinaria americana de Pasadena era um péssimo negócio, que causaria grande prejuízo à Petrobras, mas mandou o preocupado servidor não se meter naquilo.

Como tantos soldados da liberdade, suportamos os anos sombrios da ditadura militar embalados pela certeza de que aquilo não poderia durar para sempre. O tempo passou e, efetivamente, o terror acabou. Mas e o que foi que nasceu? Um novo horror. Em certos aspectos, pior ainda que o anterior. Porque um tempo de desilusões, de falsos personagens, de pouca esperança e muita patifaria.

Com Dilma ou sem Dilma, com Temer ou sem Temer, o futuro é um imenso vazio. Negro. País estagnado, desemprego em alta, inflação ressurgida, poder aquisitivo no fundo do poço e escândalos e mais escândalos, um novo a cada dia.

Mais do que taxá-lo de golpista e conspirador, tenho pena de quem se predispuser a assumir o leme desta Nação. Será tarefa hercúlea. Até porque o trabalho maior que terá pela frente não será recuperar a economia nacional, mas devolver a esperança ao povo. Mais do que qualquer outro, o grande mal causado ao Brasil pelo PT no poder foi acabar com os sonhos dos brasileiros.

P.S. – Semanas atrás, pedi à veneranda “presidenta” que mantivesse um mínimo de dignidade. O pouco que, por ventura, ela ainda tinha, vai perder se for à ONU queixar-se da “traição” de Michel Temer. Triste e lamentável ocaso. E depois queremos que o mundo respeite o Brasil…

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3 ideias sobre “Um imenso vazio à frente

  1. Bittencourt

    Zé: Ainda vou aprender a escrever desse jeito. Tô treinando há quase 40 anos. Parabéns pela análise, admirado amigo Célio. Você engrandece o puxadinho do Zé Beto. Aliás, é uma edícula com carpete e ar condicionado. Abraço,
    Bitte

  2. Célio Heitor Guimarães

    Bitte, Bitte! Você escreve tal qual ou melhor, como o Ivan, o Walter, o Celso, o Adherbal, o Jamil, o Karam e toda a turma daquela geração que amava e continua amando as letrinhas e delas procura fazer bom uso. De todo modo, obrigado pelo carinho, coisa tão rara hoje em dia.

  3. Toledo

    O ilustre Célio é bem machista, né ? Será que o Édipo esta presente. Pô
    seu Célio, menos acidez e machismo. Toma um chá de humildade e reconhece que Dilma é muito melhor que todos da direita que são seus heróis. Ou és filho de chocadeira ? Ou fã do Moro . Chega desse discurso machista, estamos em outra época. Pergunte aos seus netos.

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