No domingo do impiche
Impeachment, Dilma, Cunha, o maxi-vexame das declarações de voto na câmara dos deputados, manifestações de rua, patriotismos e patriotadas mal expressas, mal conduzidas, tudo vale a pena quando Dilma se apequena. Os muito animados que desculpem, mas o melhor de ontem, domingo do impiche, não estava em Brasília. Estava em Osasco, na partida entre Audax e São Paulo pelo campeonato paulista.
O São Paulo, que fazia vibrar corações no tempo de Rogério Ceni e Souza, perdeu feio para o time de Osasco – que nasceu clube de supermercado. O Audax é o único time no Brasil com futebol de extração tiki taka. Roberto Diniz, o técnico, ousado e criativo (três anos de longevidade na equipe), garante que seu estilo não é Barcelona: “A gente usa muito mais o goleiro na saída de bola, se arrisca mais. A rotatividade dos nossos jogadores é maior.”
Sem dúvida, Cidão, o goleiro, mostrou no jogo de ontem a efetividade da técnica de Roberto Diniz: nada de chutão para despachar a bola; entregava direto ao zagueiro, que repassava aos companheiros em direção ao campo adversário. Entre tantas defesas memoráveis, Cidão deu três dribles em Alan Kardec, do São Paulo, que se aventurou a disputar uma saída de bola. Do São Paulo salvou-se Calleri, autor do solitário gol. Rodrigo Caio e Lugano deixaram a desejar.
O Audax deu alegria até para os torcedores do adversário. Jogou um futebol alegre, vivo, entusiástico, sem reduzir ritmo e produção nos noventa minutos, contra um São Paulo desarrumado, jogadores lentos, ‘abúlicos’ – como diria o grande gaúcho Ruy Carlos Ostermann, literato da crônica esportiva. Deu o que tinha que dar: 4×1, dois gols de Ygor, um deles antológico, apanhando cruzamento no ar e chapando a bola para encobrir o goleiro Dênis.
Realmente vivemos um espetáculo dantesco ontem durante a votação do impeachment da querida companheira, lembra-me muito o do caçador de marajás, uma demagogia só, mas aí não havia golpe. Esta coisa ridícula de agradecer a mulher, o maridão, os filhos, os netos, as noras, os genros, homenagear moradores de rua. Não nos esqueçamos das manifestações inequívocas de fé em Deus, como se fosse Ele o culpado pela draga em que nós vivemos. Não vai ser diferente quando da votação no Senado, talvez com um pouco mais de classe e menos de demagogia barata. A Democracia tem ainda um bom trecho pela frente para se consolidar verdadeiramente em Pindorama; não se esqueçam nunca, vivemos na terra de Macunaíma.