7:59Moura não é Moro, nem no cinema

por Rogerio Distefano

 O cineasta José Padilha, de Tropa de Elite e do seriado Narcos, prepara-se para dirigir filme sobre a Lava Jato. Está empanzinado de credenciais depois do sucesso do biopic, filme biográfico, sobre Pablo Escobar. Deus nos poupe de Padilha escalar Wagner Moura como o juiz Sérgio Moro, mocinho na realidade e na ficção.  Ainda que ator de recursos, de raro talento no mimetizar personagens, com em Elysium, em que roubou cenas de Matt Damon, Wagner queimou o próprio filme ao condenar em carta aberta o impeachment de Dilma.

Além de ator, cantor e pensador, Moura é eleitor, tem direito de apoiar Dilma. Problema para o crítico está no identificar qual personagem de Moura escrevia a carta, instalado no residual da memória afetiva: Capitãol Nascimento ou Pablo Escobar? No papel de Moro eleja-se ator de Maringá – por lá ainda existem sobrinhos de Sônia Braga, a maior expressão artística da cidade canção. Um ator que traga o sotaque e a cor locais, tão presentes em Moro.  É que Moura interpreta em todas as línguas com entonação da Bahia.

Podemos, como dizem os franceses, não trazer ator com o physique du rôle, o físico do personagem. Wagner Moura até conseguiria reproduzir as cláusulas pétreas do rosto de Sérgio Moro. Nele caberia até o figurino de Moro, os coutumes du rôle, as roupas do herói. Pode tomar de empréstimo a toga e a fatiota de sua excelência – que não é meritíssima no vestuário, mais para prêt-a-porter que para sumisura. Nosso Giovanni Falcone não sofreu no vestuário a influência do conterrâneo, senador Álvaro Dias, o dândi pé-vermelho.

Moura deve ir para o elenco, astro global e mundial atrai público, lota cinemas, não pode ser descartado, é talismã do diretor Padilha. Então, que faça outros papéis: Lula, a jararaca do agreste, Marcelo Odebrecht, também baiano, o rei midas do petrolão. Quem sabe Nestor Cerveró, um olho na propina, outro na delação. Na pior das hipóteses Graça Foster, presidente da Petrobras. Nunca, jamais, Wagner Moura será aceito como Sérgio Moro, crime no código penal da República de Curitiba, sacrilégio para os devotos acampados no foro de Moro.

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