6:16AVALISTA DOS PLANALTOS

INDECOROSÍSSIMO         Depois de flagrado votando pela colega vizinha de bancada, o vereador de Curitiba diz que renunciará ao mandato.  Caso de quebra de decoro – dupla, porque primeiro nega ter votado e depois promete renunciar ao mandato, o que é admissão de culpa.

Renuncia porque tem vergonha na cara? Não. Se tivesse, não seria vereador, a mais onerosa e inútil representação política. Renuncia para fugir do processo por quebra de decoro, que leva à cassação e à inelegibilidade.

Com a renúncia, o vereador fica limpo, ficha lavada. Foge da raia, tira o forévis da seringa, tem vitória por WO. Assim, pode disputar novamente o mandato. A falta de decoro sai da câmara e continua na vida. A motivação do vereador, ainda mais indecorosa.

 

EMPACHAMENTO            Agora é moda: por-dá-cá-aquela-palha pede-se impeachment de qualquer autoridade. Começou com Dilma, depois Eduardo Cunha, bateu em Michel Temer e neste preciso momento quer-se tirar o ministro Marco Aurélio do STF – não porque dá pitacos extra autos sobre qualquer o que não lhe compete, mas por obrigar Eduardo Cunha a examinar o impeachment de Michel Temer, arquivado pelo presidente da câmara dos deputados.

Sendo inevitável, pelos menos podemos aproveitar o embalo e aportuguesar a palavra. Temos um equivalente perfeito: empachamento, muito usado para indicar a plenitude gástrica, o empachamento pós-prandial. Empanzinada, a pessoa não pode comer mais nada e precisa ativar o processo digestivo e a sucessiva soltura. Lembra em tudo o empachamento político que o Brasil vive. Empachados pela malta de Brasília, precisamos expeli-la.

 

O ÓRGÃO DOS OUTROS               A assembleia legislativa aprovou a proposta de cortar pela metade o órgão especial do TJ PR, reduzindo-lhe o número de desembargadores.

Os deputados apenas aprovaram proposta do presidente do tribunal. Cortam a carne dos outros e não mexem na própria carne. Cortar o órgão especial alheio é refresco.

 

INSULTO E INJÚRIA            Paulo Maluf, deputado federal de São Paulo, declara-se “enojado” com a cooptação de deputados pelo Palácio do Planalto para derrubar o impeachment de Dilma. Se Maluf está enojado, imagine nós, que nunca malufamos.

Tadinho do Maluf, que nem pode sair do Brasil para espairecer. Se sair, cai na ordem de captura internacional da Interpol. Nele, o insulto se soma à injúria, pois nunca recebeu um sestércio sequer dos corruptos e corruptores da Lava Jato.

 

ELEIÇÕES GERAIS para presidente, governadores, senadores e deputados, federais e estaduais. À primeira vista um absurdo, pois temos presidente e governadores com mandatos em curso, parlamentares da mesma forma. Mais absurdo quando temos uma constituição em pleno vigor, os poderes em funcionamento regular, sem dúvida vivendo a fibrilação da crise do impeachment – que é normal, sem riscos à segurança pública e à instabilidade institucional. Então por que o movimento por novas eleições?  Basta ver a quem elas aproveitariam, quem se beneficiaria de novas eleições.

Primeiro, os que viriam eleitos na onda do descontentamento com Dilma, Lula e PT. A saber, Marina Silva e Jair Bolsonaro, um e outro tragédias maiores que Dilma ao cubo. Segundo, aqueles que sairiam dos holofotes e eleitos novamente teriam a remissão dos pecados da Lava Jato e quejandos.  A saber Renan Calheiros et al. Fala-se a todo tempo de que o impeachment é golpe. Há argumentos pró e contra, todos respeitáveis desde que limados do paroxismo da emoção partidária. Eleições gerais nesta altura, no entanto, se algo merece o nome de golpe, aqui cabe como luva.

Não devemos menosprezar a proposta pela impropriedade e oportunismo. Sempre tivemos golpes no Brasil. No Império aprovou-se a emenda constitucional do ‘golpe parlamentar da maioridade’, que fez D. Pedro II subir ao trono aos 14 anos. O primeiro governo republicano viveu dois golpes em menos de um mês: o do presidente Deodoro dissolvendo o Congresso, seguido pelo articulado pelo vice, marechal Floriano, que provocou a renúncia de Deodoro. A última ditadura foi pavimentada no parlamentarismo instituído contra João Goulart, vice do renunciante Jânio Quadros. O Brasil insiste em reescrever a História como farsa.

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