19:22Nem Dilma, nem Temer

Editorial da edição de domingo da Folha de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.

É com pesar que este jornal chega a essa conclusão. Nunca é desejável interromper, ainda que por meios legais, um mandato presidencial obtido em eleição democrática.

Depois de seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.

Formou-se imensa maioria favorável a seu impeachment. As maiores manifestações políticas de que se tem registro no Brasil tomaram as ruas a exigir a remoção da presidente. Sempre oportunistas, as forças dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.

A administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça.

Mesmo que vença a batalha na Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não se vislumbra como ela possa voltar a governar. Os fatores que levaram à falência de sua autoridade persistirão.

Enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o obstáculo à recuperação do país.

Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à deposição constitucional.

Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda permissiva.

Mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia traduziria, num gesto de desapego e realismo, a consciência da mandatária de que condições alheias à sua vontade a impedem de se desincumbir da missão.

A mesma consciência deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de suficiente apoio na sociedade. Dada a gravidade excepcional desta crise, seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo a fim de que ele investisse alguém da legitimidade requerida para promover reformas estruturais e tirar o país da estagnação.

O Tribunal Superior Eleitoral julgará as contas da chapa eleita em 2014 e poderá cassá-la. Seja por essa saída, seja pela renúncia dupla, a população seria convocada a participar de nova eleição presidencial, num prazo de 90 dias.

Imprescindível, antes, que a Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste de vez a nefasta figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de sucessão–, réu naquela corte e que jamais poderia dirigir o Brasil nesse intervalo.

Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade sem precedentes do atual governo.

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4 ideias sobre “Nem Dilma, nem Temer

  1. leandro

    Nessa história toda, quais são os valentes e quem é covarde? Quem tem dignidade ou que não tem
    Qual de todos os personagens que estão ou não envolvidos no “Mensalão e no Petrolão” teria condições de assumir este governo falido, tanto financeiramente, como moralmente. Não vislumbro ninguém.
    O povo deve ficar atento, pois nessas horas o oportunismo permeia, a falta e caráter fica camuflado nos discurso retóricos de palanques, onde a população recebe uma nuvem que após aparece algum salvador da Pátria e aí é que mora o perigo, pois não há nenhum milagre a curto e médio prazo. Colar os cristais e achar os cacos sempre deixam marcas e é isso que estão tentando fazer colar os pedaços de uma economia fracassada.
    Não há a mínima possibilidade de aplicar as mesmas dosagens dos remédios conhecidos na ultima década, pois isso aliado a corrupção nas estatais na busca de recursos para manutenção de poder quebrou o Brasil e qualquer milagreiro irá deixar mais problemas do que soluções par a atuas geração e para as próximas.

  2. Sergio Silvestre

    Tem que dar uma banana para esse jornal,essa de nova eleição foi aventada quando o PMDB desembarcou e deu chabu,o numero contra p impeachment não batia com a vontade dos golpistas,ai agora estão querendo a renuncia da presidente.
    Se eu pudesse falar um palavrão aqui mandaria eles tomar no …..,mas eles que aguentem e ganhe no voto cambada de filhas da ……..
    Cada dia agora inventam uma modalidade,a coisa está ficando tão escancarada que um juiz aqui da província avança nas suas atribuições e burla meia constituição para mover o golpe,.
    Nós pobres vamos comer polenta com cebola,mas essa caterva de filahs da ….. vão ter que comer menos caviar.

  3. jose

    Silvestre, imprima este seu comentário…com ou sem impeachment o governo será inviável e quem vai propor este golpe será o próprio pt…vamos aguardar, falamos sobre isto daqui a 45 dias.

  4. Parreiras Rodrigues

    A quem me pergunta como é que fica se Dilma sair e entrar Temer e se este também for pro pau, assume Renan. Respondo: Muita hora nessa calma, pessoal. Um (melhor gato) por vez…

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