8:44Em tempos de más intenções

por Janio de Freitas

Intervenções desonestas não precisam ser respondidas, a menos que haja necessidade real de fazê-lo, por motivo à parte. Em geral, não valem nem o mínimo trabalho de responder. Entre o besteirol mal informado e oportunista e, no outro extremo da falta de boa-fé, atos que surgem com novas formas, os tantos exemplos não permitem dúvida: são tempos de más intenções.

No âmbito oficial, por exemplo, o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, guardou um silêncio inteligente sem por isso ficar na passividade. A divulgação da megalista de doações ou pagamentos da Odebrecht a políticos consistiu em óbvia provocação. A lista em si não vale nada, por não distinguir recebedores de doações declaradas à Justiça Eleitoral, portanto legais, e doações convertidas por candidatos em caixa dois de campanha e em dinheirão no seu bolso. Uma salada venenosa e uma divulgação mal intencionada, como ação policial. Só pode ser entendida como represália, senão desafio, à ameaça do ministro de punir vazamentos de investigações com afastamentos.

O juiz Sergio Moro decretou o sigilo da megalista -só um dia depois da divulgação pela PF. Sempre desejados pelos jornalistas, os vazamentos da polícia e do Ministério Público são ilegais. Dão a condutores de investigações um modo de direcionar os efeitos dos inquéritos, o que influir até na sentença judicial. A dificuldade de reprimir os vazamentos começa por serem os próprios jornalistas a acobertá-los, como seus primeiros beneficiários. É o obrigatório resguardo da fonte.

Mais importante, a PF considera-se um poder autônomo e quer essa condição inscrita na Constituição, com orçamento próprio e diretor eleito pelos policiais. Suas ambições incluem mesmo a equiparação a ministros do Supremo. A disposição do novo ministro da Justiça, com fundamento legal, e a advertência da PF de que não aceitará punições são, mais do que prenúncios, já indícios de um aspecto a mais na crise. E não pequeno, mas talvez necessário.

As ameaças ao ministro Teori Zavascki e à casa gaúcha de seu filho são mais do que aparentam. Sóbrio, sem discurseiras políticas nem pedantismos jurídicos, de sua chegada até agora é um ministro exemplar do que deve ser o Supremo. Acima da orientação de cada um dos seus votos está a seriedade aplicada a todos. Se os odientos começam por Zavascki a extensão da violência que cometem nas ruas, a alternativa é clara: ou as polícias locais agem logo com eficiência e rigor, identificando-os para o processo adequado, ou em pouco não terão mais possibilidade de controle. As ameaças e as ofensas a Zavascki, na frente do Supremo, não revelam más intenções: são péssimas.

“Estamos vivendo e sofrendo as consequências desta crise que tem três componentes: político, econômico e ético e moral, e os três estão interligados”. Quem expõe essa lucidez? Ninguém, claro, entre os identificados com Aécio, Gilmar Mendes, a Fiesp-PMDB, Eduardo Cunha e demais astros do buraco negro. Ninguém, a rigor, que dissesse ainda, entre aqueles citados e outros bolsonaros, que “o Exército é uma instituição de Estado”, ou seja, não está à mercê do jogo político. E, além de só admitir qualquer ação se convocado por um dos Três Poderes, apenas o faria “absolutamente” de acordo com a Constituição.

Quem diria? O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, antecipa a resposta aos mal intencionados que começam a falar em militares.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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7 ideias sobre “Em tempos de más intenções

  1. Sergio Silvestre

    Mesmo com tudo escancarado,vai se vendo que no Supremo temos grandes homens,lúcidos,cumpridores da lei e uma quadrilha de partidários e maria vai com as outras.
    Os mais de 300 picaretas do congresso,talvez num momento de lucides,poderiam olhar um pouco no futuro e sentir o que vai acontecer se o quase delinquente Temer concluir seu golpe.
    Simplesmente não vai levar,não vai ser como depor um Collor de Mello que era unanimidade nacional seu Impeachment e Pais nenhum se sustenta com deposição de presidente a bel prazer desses picaretas quando ficarem de mal do governo e algum golpista que já arma seu ministério só de tranqueiras para continuar a assaltar o Pais e frear tudo que foi investigado.
    Se a Dilma tem como é pesquisado 10 milhões de simpatizantes,que não leem a veja,nem acredita no que diz a REDE GLOBO,este seria o maior exercito do mundo,que marchando para cima dessa picaretagem que querem fazer com o Pais,vai rolar muito cadáver e muitos anos de sombras tenebrosas,uma escuridão sem fim,quem quer pagar para ver que veja depois.

  2. T. Birnbaum

    Não sei por que se dá espaço para este petrossauro esquerdista camaleônico! Jânio de Freitas é aquele cara que está lá no conselho editorial da Folha de São Paulo para que o jornal sinalize “independência” econômica e apartidária e “pluralidade” ideológica.

  3. Sergio Silvestre

    Poie é berimbau,mentes ditatoriais como a sua é que requentam essa divisão idiota entre dois povos.
    Hoje trocamos alguém honesto por um vulgar ladrão só para satisfazer a raiva que passou quando seu candidato foi derrotado.
    Os cegos acham que em 2016 podem fazer o que fizeram no verão e começo de outono de 52 anos atrás,hoje as informações são instantâneas meu caro e as manifestações ideológicas tem que serem postadas as vezes meio a contra gosto do veiculo.até por que ninguém vive só de clube da Luluzinha.

  4. jose

    Silvestre, só para lembrar: quem pôs o Temer lá foi o pt também.
    E você votou nele também.
    Parabéns.

  5. Sergio Silvestre

    Quem PÔS o ovo foi o urubu ou alguma serpente,ou talvez esse Temer foi cagado por alguma cegonha.

  6. leandro

    Vamos parar para ver. Mais uma ameaça de um petista fora de controle. Quando a vinda do Temer e a citação de uma “serpente”, lembrem que tem um por aí que se auto denominou de “jararaca” seria ela que “botou” o ovo? Quem votou no PT votou no Temer. Então aguentem.

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