por Zé da Silva

Pago pelos pecados que não cometi. O deserto não tem fim e minha língua rasteja sobre a areia escandante – e as feridas abertas são temperadas com sal que não sei de onde vem. O que fiz para tanto? Apenas pensei. Eles sempre vieram sem premeditação. Sou mau? Achei que era um anjo porque nunca matei um elefante. Mas ao ver certas pessoas, mesmo sem conhecê-las… Construía toda uma história de sordidez e planejava o fim delas com o requinte do Dr. Phibes. Agora estou aqui, há anos, sem tomar um gole de água, feito um camelo, para que o sofrimento se estenda. Nem miragens de oásis tive, apenas algo como o delirium tremens dos alcoólatras, atacado que fui por toda espécie de insetos e serpentes. O pior é que não esqueço aqueles de quem falei e desejei o pior. Desconfio que estou no inferno.