9:30Momentos de República bananeira

por Clovis Rossi

Bastou Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao primeiro plano da cena política para que se pudesse usar seu bordão: nunca antes neste país o Brasil viveu momentos tão intensos de República bananeira.

divulgação da gravação de conversa entre Lula e a presidente Dilma Rousseff mostra cenas explícitas de baixaria partidas de quem, mesmo tendo deixado a Presidência, teria a obrigação de zelar por um mínimo do que se convencionou chamar de “majestade do cargo”.

A gravação faz com que a crise atravesse a praça dos Três Poderes e se instale (também) no prédio do Supremo Tribunal Federal.

Afinal, a iniciativa de Dilma de promover uma, digamos, “nomeação express” é uma clara tentativa de obstrução da Justiça.

Não que Lula, ao ser nomeado, ganhe imunidade. Mas ganha a possibilidade de ter a investigação contra ele passar para um degrau acima do juiz Sérgio Moro, sempre disposto a emitir ordens de prisão contra poderosos do setor público ou privado.

Qualquer ação contra Lula, portanto, terá de ser autorizada pelo Supremo — essa instituição que está “totalmente acovardada”, na avaliação de Lula revelada pelo grampo.

A sabedoria convencional manda dizer que uma afirmação desse teor tende a predispor o STF contra Lula. Um de seus ministros, Gilmar Mendes, já tomou publicamente posição contra a nomeação de Lula, mas esse não é um dado definitivo sobre o conjunto da Casa, porque Gilmar é notoriamente contrário ao governo.

Bem feitas as contas, o vazamento da gravação anulou o efeito positivo que o governo imaginava ter obtido com a aceitação por Lula do cargo de chefe da Casa Civil.

O que se admitia no próprio Palácio do Planalto, antes da nomeação, é que Lula representava a última carta da presidente para manter-se no cargo.

Hoje por hoje, nos cálculos de governistas fiéis, mas não cegos, o governo não dispõe de votos suficientes para barrar o impeachment, se e quando o processo começar no Congresso.

Parêntesis: há quem, entre os governistas, acredite que nem Lula operará o milagre de salvar Dilma, dada como em estado terminal.

Fecha parêntesis.

O relevante no fato de que a crise atravessou a praça é que também no STF, pelo que a Folha pôde apurar, se considera que Lula-ministro é a última bala que resta na agulha do revólver de Dilma para se defender.

Se é assim, a tendência natural do Supremo é a de funcionar como bombeiro. Ou, em termos práticos, evitar derrubar a nomeação de Lula, mesmo que a oposição ou o Ministério Público recorram à Corte Suprema, alegando tentativa de obstrução da Justiça.

Essa tendência pode, no entanto, ser modificada pelo teor das declarações do ex-presidente contra o STF. Acho improvável que os ministros partam para uma retaliação, mas a situação geral é de um tal confusão que qualquer previsão é uma aventura.

Tudo somado, tem-se que o dia começou com o governo certo de que tinha uma mão de cartas boa para sair do corner, com Lula ministro, e termina com a suposta bala de prata oxidada.

*Publicado na Folha de S.Paulo

Compartilhe

5 ideias sobre “Momentos de República bananeira

  1. TOLEDO

    Esse é mais um coxinha assalariado que publica o que agrada os Frias. Mas o tempo vai passar e ele vai ver que era Fria fazer isso. Vai dormir coxinha bobão, puxa saco de patrão.

  2. Fausto Thomaz

    Deve ser duro ter votado duas vezes no Lula e uma na Dilma pensando que os dois ídolos fossem realmente mudar o país….e hoje descobrir que não passam de uns pulhas mentirosos e arrogantes….tenho pena de vc Toledo e do Silvestre tmbm….seus heróis viraram bandidos….triste.

  3. cético

    O que os Petistas, de dentro de suas apertadas viseiras, ainda não enxergaram é que, depois de ontem, independentemente de quando e como o PT sair do poder, um fato é inevitável:
    O Lula será um novo Brizola.
    De grande líder da esquerda brasileira, temido pelos adversários e capaz de eleger postes, em pouco tempo, passará a condição de Nanico da Política e irá se unir à Luciana Genro nas discussões ideológicas contra o Levy Fidelix. Mas, por enquanto, vai manter uns 5% do eleitorado, pois sempre haverão Lulistas e Mallufistas fiéis.
    Ps. Recado para o Silvestre e o Toledo: Não adiante esbravejar, pois o tempo vai demonstrar tal fato. Aguardem.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.