16:09FHC tem explicações a dar

por Bernardo Mello Franco

Um filho fora do casamento é um assunto que só diz respeito às famílias envolvidas. A imprensa não pode invadir a privacidade das pessoas públicas. Ninguém deve julgar a conduta dos políticos por suas relações amorosas.

Estes argumentos foram usados por Renan Calheiros há nove anos, quando se descobriu que ele pagava pensão à jornalista com quem teve uma filha. O senador estaria certo se não fosse por um detalhe. A mesada era entregue por um lobista da empreiteira Mendes Junior, que tem múltiplos negócios com o Estado.

A imprensa tratou do caso Renan porque havia interesse público em jogo. A história se repete agora com Fernando Henrique Cardoso. Seu filho virou notícia porque a mãe contou à Folha que recebia a pensão no exterior por meio de um contrato fictício com a Brasif. O arranjo, segundo ela, foi intermediado por FHC.

No governo tucano, a empresa dominava o negócio milionário dos free shops nos aeroportos. Os contratos eram renovados sem licitação. A Brasif era ligada a Jorge Bornhausen, amigo do ex-presidente.

Na quarta-feira, FHC admitiu ter contas no exterior, mas disse ter declarado tudo ao Banco Central. Ele negou a participação de qualquer empresa nas remessas à ex-amante.

O dono da Brasif ofereceu outra versão. “Tem alguma coisa mesmo, sim”, disse à repórter Mônica Bergamo, sobre a existência de um contrato para ajudar o ex-presidente a mandar dinheiro para fora.

Na quinta, FHC mudou o tom. “Trata-se de um contrato feito há mais de 13 anos, sobre o qual não tenho condições de me manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos que considerar necessários”, afirmou.

Na sexta, foi a Brasif quem mudou. Em nota, disse que o ex-presidente não teve participação na contratação da ex. Faltou esclarecer por que ela passou cinco anos sem trabalhar. A exemplo de Renan, FHC ainda tem muitas explicações a dar.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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