11:48O velho, o jovem e o ego

por Yuri Vasconcelos Silva

Os jovens sabem tanto. Que saudades os senhores e inveja as crianças têm destes jovens que tudo sabem com certeza e convicção. Não faz muito tempo, um sujeito com mais de quarenta no ofício de sua vida, sugeriu aos seus jovens patrões que não fizessem daquele jeito, mas deste outro. Os meninos, com olhos brilhando e a fome de dominar todo um mundo, agradeceram a sugestão. Acataram, porém, o que suas certezas em forma de saberes gritavam atrás de seus ouvidos. Afinal, tinham estudado muito, passado por vários países europeus bem civilizados. Leram todas as obras que consideravam úteis naquele campo. Dominavam todas as traquitanas das máquinas e da rede. A opinião daquele senhor não era, de modo algum, relevante. O momento é dos jovens, e mesmo os senhores que realizaram grandes coisas no passado, são vistos como bustos vivos apenas para serem celebrados, não ouvidos. Os jovens, em sua maioria, querem realizar grandes coisas também. Mas a auto-importância, o ego e a mesquinharia destes estranhos tempos são ingredientes que constituem a arrogância descomunal, sem fundações em algum tipo genuíno de genialidade. Em segredo ou nem tanto, os jovens se consideram gênios visionários. A indiferente realidade da natureza então se encarrega de empurrar a garotada aos abismos da frustração e desengano. Inseridos em um tempo que exige líderes para nações ou padarias, as instituições olham para o passado e sentem-se vazias, com inveja. Os jovens são forçados a criar o novo todos os dias, estar em jornais, em destaque com letras em bold, com títulos e selos certificadores de qualidade. Tudo isso deve provocar algum sofrimento. O ego alimentado tem ainda mais fome. Carente, produz terrível dualidade: o desejar e o rejeitar. E cada vez que as circunstâncias colocam a gurizada em situação de algo que desprezam presente em suas vidas, ou aquilo que almejam é pra longe afastado, o sofrimento emerge. O Ser ou Não Ser nunca foi tão extremo. Talvez o problema comece justamente em querer, a todo custo, Ser.

Mas eles envelhecerão, pelo bem da humanidade. No lugar de todo aquele conhecimento tão certeiro sobre o trabalho e tudo mais, vem a sabedoria acumulada com os erros. A experiência não pode ser passada de um velho para um jovem. São sistemas incompatíveis. O velho sabendo disso, quando dá um conselho e este bate na trave, se cala. Não há outra maneira a não ser aprender sozinho, ao modo da evolução natural. Através da dor. Aquele desejo de Nelson Rodrigues é poucas vezes observado na natureza humana: aos jovens ele apenas aconselhou que envelheçam o mais rápido possível. O envelhecer amolece as estruturas e carapaças, alarga o campo de visão para olhar os outros ao invés dos próprios pés. Ensina a ouvir mais do que falar. A contemplar o silêncio ao invés das bobagens ruidosas. A sentir empatia e mais paciência. Aproveitar o momento o único que existe, o presente. Até porque a morte não é mais um pontinho preto no horizonte. De fato, a perspectiva da morte é um poderoso catalisador no processo de amadurecer. Ela coloca em perspectiva o que de fato importa neste breve momento que nos foi dado, e mostra o quão ridículo somos quando jovens. Olha-se o passado com alguma vergonha, por ter acreditado em valores tão miúdos como dinheiro ou sucesso. Exceto quando crianças. Ah, a infância carrega tanta sabedoria quanto a idade madura. Talvez um pouco mais, pela quantidade de folhas em branco ainda a serem preenchidas. Sabe disso quem tem boa memória ou crianças por perto. Parece que a juventude é mesmo um contratempo, um contrassenso, um teste de qualificação. Por sorte, isso passa.

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

 

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