17:21Desista de mim

por Ticiana Vasconcelos Silva

Deus,
Estou quieta. Não me abstenho de fazer o que não gostaria – isso é mais falso que o acaso que uniu o vinho à embriaguez. Faço e olho o céu. Não há nada lá. Aqui, Tu me inquietas. Posso ficar sem Ti ou isso é apenas a minha memória desacordada? Tu me embalas e eu fujo para não conceber palavras que não são minhas. A vontade de me corromper, de me abandonar, de me esconder é Teu sopro suave em minha alma. Podes ser um pouco mais compreensivo e me deixar olhar as estrelas sem me magoar? Não é uma mágoa doente. É apenas uma condição de não poder olhar o céu de cima. Acho que sinto saudades, mas Tu me subjugou e me deixou apenas uma lembrança do que um dia fui. És tão absoluto que não possa Te contemplar? Por favor, desista de mim e deixe-me olhar o mar sem que nele descubra a minha mais profunda condição humana, tão em mim enraizada, tão em mim vital. Eu só quero permanecer sem ter que me despedaçar. Seja meu remédio. Meu tédio sujo e escuro. Despeça-Te de mim e me encontre quando eu souber quem eu sou afinal.

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