9:13HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Não quero acompanhar o trajeto até a morte dele. Já fiz isso com seu irmão, meu pai. Fiquei uma semana dentro do hospital, ao lado do leito, até que a respiração começou a acelerar em espaços curtos, chegou a maca, levaram-no para a UTI – e eu acompanhando o trajeto. Então, na correria, consegui chegar bem perto do ouvido dele para dizer eu te amo. Não quero isso de novo ao lado meu tio. Telefonaram para dizer o clássico “os médicos desenganaram”. Essas palavras não me afetam. Ele sempre foi alegre e foi de quem sempre ouvi, ao telefone, a resposta perfeita e bem humorada quando lhe perguntava como estava: “Com um pé na cova e outro na casca de banana”. Tenho um retrato dele do tempo do onça – rindo, porque era sempre alegre, ao contrário do irmão, depressivo. Posou ao lado do caminhão que fazia entregas para a indústria em que trabalhava. Nele, quando criança, fiz uma viagem de ida e volta ao Rio de Janeiro. Inesquecível. Acho que eu e meu tio subimos na carroceria durante este trajeto de vidas. Quase caí algumas vezes. Ele ficou firme ali até perto dos cem anos. E está lá, para sempre.

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