12:00HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Três pessoas vieram me dizer – e nenhuma tinha a voz de Milton Nascimento. Contaram que contaram em passos o tamanho da piscina antiga, que dominava o terreno arborizado e sob a proteção das montanhas da Serra dos Órgãos e do que restou da Mata Atlântica. Da sacada do sótão do casarão centenário olhei a paisagem e a água azul e transparente represada no retângulo de pedras bege era paz. Com suas passadas, cada um mediu o comprimento e me falou a medida encontrada. Foi assim, sem ninguém pedir, antes e depois de mergulhos e braçadas em uma das quatro raias marcadas no fundo. Quinze, vinte, dezenove metros. Houve uma pequena discussão na hora do almoço, mas a galinha ensopada falou mais alto. Alguém voltou a medir, mas não me falou mais sobre o resultado. Voltei ao sótão para admirar um quadro do alemão Beckmann. Ele pintou os horrores da primeira guerra mundial, mas aquela tela ali era de paz e mostrava mãe e filha numa paisagem idílica. Estão à beira de um lago – sem medição. Numa gaveta da escrivaninha antiga, achei uma régua. Na primeira luz da manhã, farei a medição exata. Mas não falarei para os outros. Será meu segredo, pois sou uma das vozes a me falar sobre o tamanho da piscina.

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