0:45A flecha do tempo

por Yuri Vasconcelos Silva

Tic Tac. Tic Tac. Este som aterroriza o capitão. Para as crianças que ouvem a velha história, Gancho teme os toques do relógio porque significa que seu algoz, um crocodilo gigante que lhe arrancou o braço, está por perto desejando todo o resto. Não se trata de um reptiliano bomba. Quando abocanhou o braço do capitão, levou também seu relógio, que ainda funciona no interior da fera.

Os adultos, porém, encaram a alegoria do Capitão Gancho através de uma perspectiva bem diferente. Todos são como o Sr. Gancho. Em algum momento percebe-se a inevitabilidade da morte e do não existir. Ter a consciência da própria finitude é uma das causas capitais de boa parte do sofrimento humano. Ao analisar os fatores que encerram a existência das coisas como hoje são, da vida humana a uma taça de vinho que se estilhaça ao cair no chão, o tempo parece ser não apenas o principal elemento, mas também o mentor e culpado pelo crime do fim de tudo. É o tempo que persegue o Capitão Gancho que, não por acaso, inveja Peter Pan, o garoto que escapou do processo de envelhecer, adoecer e morrer. Surge, portanto, uma pergunta simples, mas desconcertante, típica de uma criança. O que é o tempo?

Quando físicos afirmam que se trata da 4a dimensão, é fácil compreender com um exemplo clássico. As primeiras três dimensões são espaciais. Altura, largura e profundidade definem o mundo tridimensional que todos vivenciam. Se alguém marca um encontro com outra pessoa, elas precisarão ter, no mínimo, os dados das dimensões espaciais e a dimensão temporal. Assim, um sujeito afirma que estará na Avenida Xis esquina com a Rua Ypsilon, na altura do 7º andar de um prédio, às 9 horas. Se não houvesse a definição do horário, seria impossível localizar esta pessoa. O que é um mistério para a ciência atual é o porquê de o tempo ter apenas um sentido, correndo apenas para o futuro. Por que os eventos não ocorrem de trás para frente? Na realidade, segundo as leis da física e suas equações, não há nada que impeça que o tempo retroceda. No entanto, a experiência cotidiana sugere fortemente que os eventos se desenrolam em apenas um sentido. A equação que traduz esta realidade emerge da 2ª Lei da Termodinâmica e trata da Geração de Entropia.

É a constatação de que todo o universo caminha de um grau de ordem para a desordem. Quanto mais caótico o sistema, maior sua Entropia. Um ovo inteiro representa um belo grau de ordem e consistência, até mesmo estético. Quando quebrado, sua clara e gema mexidos em uma frigideira são misturados e aquecidos até virar uma bagunça de maior Entropia. Ovos mexidos. O contrário não ocorre porque existe apenas uma maneira do ovo estar naquela condição específica, inteiro e intacto, contra uma infinidade de possibilidades dele estar espatifado e suas partes misturadas ou espalhadas por aí. E esta é a direção que parece ser natural no universo. Sempre aumentando o grau de desorganização e diminuindo a complexidade. O momento de maior organização possível nesta história toda foi o instante antecedente ao Big Bang. Desde então, a Entropia apenas aumenta. Esta observação nos dá a sensação do tempo passar, criando a percepção que se tem do passado, presente e futuro, nesta ordem específica.

A Entropia implica que não há escapatória. O corpo humano, as ideias, a civilização e o planeta estão sujeitos ao fato de que seus componentes irão se desestabilizar, se separar e esfriar. Mesmo com todos os esforços para prolongar a vida, os homens nunca chegarão a ser imortais. O próprio universo vai se expandir até se tornar um lugar frio, escuro e solitário. Não se trata de pessimismo, apenas experiência e observação dos fatos.

Por outro lado, literalmente, a Entropia pode ser a pedra angular da viagem no tempo. Se ela determina a Flecha do Tempo, o sentido único de avanço dos eventos em direção ao aumento da desordem, a observação e estudo deste processo pode nos guiar ao completo entendimento de causa e efeito e, talvez, possibilitar a inversão do fluxo temporal. Caminhar para o outro sentido. Não é necessário que pessoas ou objetos se transportem para o passado. Bastaria enviar informações através do tempo para consequências e resultados inimagináveis, sejam eles positivos ou negativos.

Entre os dois personagens da fábula infantil, estamos mais para Capitão Gancho do que para Peter Pan, habitante daquela terra onde o tempo não existe. Mas a imaginação humana, sem dúvida, habita a Terra do Nunca.

* Revisão de Professor George Stanescu, doutor em engengaria mecânica e termodinâmica

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