7:04Histórias nada exemplares de nossa mineração (III)

por Dirceu Pio

Ganha um doce quem adivinhar quem foi a Marion. Ela  morreu no início dos anos 90, mas enquanto esteve viva ! Nossa Senhora!  Pintou e bordou na mãe natureza e sem dó nem piedade.

Ela destruiu mil hectares (eu disse MIL) de terras férteis no município de Siderópolis, no sul de Santa Catarina. Só eucalipto cresce nos lugares por onde ela passou e olhe lá. Há lagos contaminados com rejeitos de carvão mineral que são puros reservatórios de veneno. O solo ali tornou-se pestilento !

Mas, afinal, quem foi a famosa Marion ? Foi uma drag-line ou simplesmente draga de proporções gigantescas ; tinha uma caçamba que media 23 metros cúbicos e uma lança (guindaste) de 70 metros de altura. Eu já a vi em operação: o guindaste erguia a caçamba lá para cima e depois a soltava. E ela, a caçamba, caia de boca no solo.  A operação chegava a provocar tremores na terra. Depois vinham escavadeiras e caminhões para remover o material arrancado do solo numa só paulada.

Foi a maneira portentosa que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional),  estatal do aço, encontrou para retirar o carvão mineral que ali em Siderópolis surgiu em pouca profundidade; foi necessário apenas uma metodologia do tipo “arrasa quarteirão” para arrancar o carvão e deixar tudo revirado; a imensa área “trabalhada” pela Marion chegou a ser conhecida no mundo inteiro como “a paisagem lunar brasileira”. Como se vê agora em Mariana, os homens da mineração brasileira detestam a natureza e o meio ambiente. Amam as burras cheias de dinheiro !

Não foi apenas a CSN que cometeu esse tipo de crime ambiental no Sul de Santa Catarina: outra criminosa, na   exploração do carvão mineral a céu aberto, foi a Treviso, que chegou a usar cinco dragas no estilo da Marion, mas de porte menor. A regra era arrancar o carvão e tchau, deixar o solo naquela condição deplorável.

As dragas só desapareceram do Sul catarinense depois de 1990, quando o presidente Fernando Collor (ele mesmo !) suspendeu a lei criada por Getúlio Vargas que tornava obrigatório às siderúrgicas nacionais usar 20% de carvão mineral brasileiro para alimentar seus fornos. Com o fim da obrigatoriedade, a atividade mineradora do Sul de  Santa  Catarina entrou  em recesso e interrompeu aquele ciclo irracional que poderia ser chamado de “a farra do carvão”.

A farra do carvão, bem pior do que aquela outra invenção catarinense, “a farra do boi”, não se restringiu às imensas áreas de exploração à céu aberto. Toda a atividade mineradora da região prosperou de costas viradas tanto para a natureza quanto para o homem. Em artigo anterior, denunciamos a morte de milhares de homens atacados por pneumoconiose. Não falei das atrocidades cometidas contra o meio ambiente.

O carvão sai da mina envolto num rejeito chamado  pirita, puro veneno. Pior que isso: a pirita reage com a chuva e libera uma fumaça branca (gás sulfídrico) com cheiro de ovo podre; as populações de Criciúma,  Siderópolis, Lauro Muller e tantas outras localidades da área carbonífera passaram anos e anos respirando aquele cheiro de ovo podre, pois havia montanhas de pirita por todos os lados.

A recomposição de áreas e recursos naturais degradados pela mineração carbonífera é uma atividade super complexa (http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/1674/1/Tiago%20Alexandre%20Manenti%20Silvestrini.pdf), mas o Ministério Público Federal impôs esta obrigatoriedade a todas as empresas infratoras do Sul catarinense em 1993. Mais da metade delas não levou a exigência a sério, de modo que só em 2007 ficaram prontos os projetos que tentavam reestruturar tudo aquilo que foi destruído. Com a lentidão presumível, muita coisa foi feita nesses últimos dez anos.

SÃO HISTÓRIAS QUE TORNAM INADMISSÍVEL A CONTINUIDADE EM MINERAÇÃO DE EMPRESAS, COMO A SAMARCO, QUE OPERAM SEM A MENOR POSTURA ÉTICA.
ASSINEM POIS MEU ABAIXO-ASSINADO PELA CASSAÇÃO DA OUTORGA DE MINERAÇÃO À SAMARCO:

https://www.change.org/p/cassem-a-outorga-de-extra%C3%A7%C3%A3o-mineral-da-samarco

Compartilhe

5 ideias sobre “Histórias nada exemplares de nossa mineração (III)

  1. Parreiras Rodrigues

    No Noroeste paranaense, décadas 50-60, as nossas marions eram as serrarias, com as suas temidas serra-fitas alimentadas por caminhões, esses nutridos por machadeiros e traçadores. Não existiam, dos males o menor, as motosserras. E a gente endeusava os madeireiros, os desbravados da região. Mas, eles também não sabiam…

  2. Sergio Silvestre

    Uia.gostei Parreiras,fui um tirador de lascas e serrador de mourões para cercas e hoje eu me penitencio das tantas araruvas,óleos pardos perobas linheiras e outrras madeiras nobres extintas que derrubamos para fazer cerca.Me lembro das negaceadas nas picadas do mato quando quase pisava num jararacão erado que sua dose de veneno matava em horas e os bandps de inhambu guassu hoje quase extintos tomando agua numa fonte no meio do mato.Quem viveu o Parana do Norte como era chamado viveu num outro Planeta,onde as melancias os melões do meio dos arrozais na rica terra roxa era coisa de ooutro mundo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.