21:33Pardal

Do blog Cabeça de Pedra

Matei muito pardal lá no tempo do Cantinflas. Nem precisa ouvir aquela história de que este passarinho é praga, rato com asas. A turma de calça curta saía em safari pelas ruas de terra da vila. Estilingues armados, balas de barro redondinhas, confeccionadas na véspera, secadas no sol. Raros tinham boa pontaria, mas os ruins de vez em quando acertavam o peito do bichinho – e faziam a festa. Depois, a gente comia os ratos, sem as penas. Espetados e assados em fogueira feita à noite no fundo do quintal de um dos caçadores. Um dia fui escolher uma forquilha nova. Na vizinha tinha um arbusto onde elas apareciam aos montes. Desta vez, contudo, prestei atenção nas flores amarelas que ali estavam. Um encantamento. Fiquei ali um tempo indeterminado. O mundo parou. De repente um passarinho pousou. Era pardal. Ficou parado me fitando com os olhinhos minúsculos. Nunca mais atirei num semelhante dele.

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Uma ideia sobre “Pardal

  1. Parreiras Rodrigues

    Também nunca matei um. O bichim tava ali, dois, três metros, no peito só faltava o desenho do alvo aqueles círculos um dentro do outro o último o maior de todos. Estilingue de forquilha de café-de-bugre (saia um leitinho dos talos quebrados ótimos para puxar berne). borracha dura de pneu de câmara de carro, e as pelotas como as do Cabeça de Pedra (eu as fazia lá na Cerâmica Santa Isabel, meio da década de 50, a maior da Améria do Sul)- na minha Santa Isabel do Ivai. Mirava, lingua encostada no canto da boca e na hora do tiro, uma mão puxava de ladinho. Antes de voar, o pardal parecia me mostrar a lingua, ô fidumaéguamalagradecido.

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