6:32CONTRA A INTOLERÂNCIA

por Omar Nasser Filho*

O terror e a intolerância fez outra vítima, dessa vez no Brasil. O fanatismo atingiu severamente a índole naturalmente simpática e acolhedora do povo brasileiro. Aos poucos, começamos a encontrar em nossa própria população indivíduos que estão dispostos a infligir ao outro ofensas e, até mesmo, agressões físicas, simplesmente por não comungarem da nossa fé.

Há uma maré crescente de islamofobia entre a população brasileira. Isso é sentido, especialmente, pelas muçulmanas. Enquanto os homens muçulmanos não se diferenciam numa multidão naturalmente miscigenada como a brasileira, o mesmo não se pode dizer das mulheres. Por usarem o hijab, elas são facilmente identificáveis. E recebem, em várias ocasiões, a carga do ódio religioso e racial.

Estas demonstrações de discriminação, que vinham sendo relatados esporadicamente desde os atentados de 11 de setembro de 2001, ficaram muito evidentes e se tornaram mais violentos logo após os ataques terroristas em Paris, no último dia 13 de novembro. Há quinze dias, uma brasileira revertida ao Islã, Luciana Velloso, recebeu uma pedrada quando chegava em casa, no bairro do Jardim Botânico, em Curitiba. O hematoma na perna não doeu tanto quanto o trauma psicológico. Luciana ficou três dias sem sair de casa.

A discriminação e o preconceito são filhos da ignorância. Na multidão há aqueles que não sabem diferenciar o Islamismo dos atentados em Paris. O Islamismo, atualmente a religião que possui a maior quantidade de seguidores no planeta – estimados em 1,6 bilhão, segundo o Pew Research Center – não tem qualquer relação com o Estado Islâmico do Iraque e da Síria ou, simplesmente, Estado Islâmico.

Ao longo da história, muitos foram os movimentos terroristas que usaram a religião para justificar seus atos. O terror do Irgun Zwei Leumi, da Palmach e da gangue Stern, que assolou a Palestina nas décadas de 1930 e 40 e massacrou aldeias árabes inteiras, escudou-se no judaísmo; durante décadas, católicos e protestantes se mataram na Irlanda do Norte; hoje, um movimento criminoso como o Estado Islâmico usam uma imagética muçulmana sem, na verdade, agir conforme os mandamentos do Islamismo.

Em momentos como o que vivemos hoje, antes de lançar julgamentos sobre o outro, é preciso conhecê-lo. O Islamismo não defende, não prega e até mesmo condena atos como os perpetrados pelo Estado Islâmico. Não é permitido, segundo as leis da Religião Muçulmana, numa guerra, atacar crianças e mulheres, dizimar as populações civis. A guerra deve ser travada entre soldados, no campo de batalha.

Que os conflitos do Oriente Médio não deteriorem a convivência pacífica entre as diversas comunidades étnicas e religiosas que convivem pacificamente no Brasil. E que as muçulmanas – e os muçulmanos – possam professar sua religião sem sentir medo do terror.

*Omar Nasser Filho é jornalista, economista e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná. É co-autor do livro “Um diálogo sobre o Islamismo” – Criar (2002).

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