21:20HORÓSCOPO

por Zé da Silva

A barriga tinha crescido muito mais do que o esperado. Ele só via isso nas fotos, mas apagava da memória rapidamente. Era o pão, disse a nutricionista. O pão normal, esse mesmo, francês, com muita manteiga, queijo – e um balde de café com leite. Tinha as massas, mas a doutora, que um dia visitou a pedido de toda a família, ela também foi esquecida rapidinho. Por isso ficou feliz ao saber de Orson Welles. Sim, ele já admirava o Marlon Brando enorme do fim da vida, mas o ator, sempre bonito, mesmo gigante, era uma massa uniforme de cima abaixo. Welles, não. A barriga cresceu mais que tudo, mas seu amor pelo cinema era muito maior. A felicidade veio ao saber, por acaso, vendo um documentário, que o gênio morreu deitado, com uma máquina de escrever apoiada na protuberância,  escrevendo um roteiro de filme – o último que também não realizaria, mas que deixou um desconhecido no mundo com a imagem na cabeça e um sanduba na mão.

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