12:14Será que alguém aí poderia rezar por Mariana também?

por Roberto Bertholdo

Não se trata de uma crítica, mas sim uma reflexão: mais que amar Paris, como a grande maioria das pessoas ama, eu amo os seres humanos.

Abomino qualquer espécie de violência – e quem me conhece sabe bem disso.
Fico pensando por qual razão a tragédia causada em Paris gera mais comoção que a tragédia numa pequena cidade no interior do Brasil. O número de mortos em Mariana foi bem menor que o número de Paris. Mas ambos os casos, igualmente, foram causados por uma estúpida ação humana.
Em Paris a ação foi praticada por seres humanos em momento de verdadeiro transe e motivados por uma pseudo intenção religiosa. Claro que esses caras não são religiosos – são terroristas.
Claro que o Alcorão não prega nenhum tipo de atitude de tamanha desumanidade.
O Alcorão, a Bíblia e o Tanakh, todos esses livros, pregam o amor e solidariedade humana.
Em Mariana, no Brasil, por sua vez, a tragédia também possui a impressão digital do transe humano.
Mas esse transe é um transe de natureza econômica.
Claro que ninguém projetou uma barragem para se romper, mas pelo pouco que conheço da administração no Brasil e no mundo, existem boas chances que na melhor das hipóteses tenha havido, naquele episódio, pelo menos, negligência humana.
Uma negligência causada por interesse econômico – verdadeiro transe que se funda na incansável busca pelo lucro.
Lucro e riqueza, talvez esses, os maiores transes de todos.
Mas também me chama atenção a disparidade entre a comoção dispensada para um e outro caso.
Por que tão poucos brasileiros choram ou rezam por Mariana?
Por que tão poucas manifestações públicas?
Por que o caso de Paris gera tanta comoção?
Será que é porque seria “chic” rezar por Paris e “brega” rezar por Mariana?
Será que a dor de um pai ou de uma mãe que perdeu seu filho em Mariana é diferente da dor dos pais de Paris?

Por que a mídia brasileira dispensa tanto tempo expondo a tragédia de Paris , que está a milhares de quilômetros do Brasil, e nem 10% desse tempo com a tragédia dos nossos conterrâneos de Minas?

Será que é porque é cool falar de Paris?
Será que falar de Mariana não dá tanto IBOPE?

Claro que eu também estou comovido e inconformado com o ocorrido em Paris.

Talvez eu esteja errado e não tenha observado o tema por outro prisma, mas eu, sinceramente, penso que nós brasileiros deveríamos ser tão implacáveis no caso das nossas próprias tragédias como somos quando elas acontecem no “estrangeiro”.

Eu também rezo por Paris.
Será possível que eu esteja errado?
Será?

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4 ideias sobre “Será que alguém aí poderia rezar por Mariana também?

  1. Sergio Silvestre

    O grande problema meu caro é que os grandes depósitos de dinheiro na Suíça e paraísos fiscais são gastos uma grande parte em Paris e lá precisa ter segurança para esses grandes turistas e outros que ali tem a sua segunda casa.
    E também a maioria pobre não sabe o que aconteceu no norte da Africa no seculo passado,mas foi mais ao menos assim ,os legionários franceses e seu exercito invadia propriedades e casas e degolavam famílias inteiras e muitos desses argelinos,Tunisianos e marroquinos ainda sentem um caroço na garganta que não conseguem engolir os franceses.
    Pois bem ,se trocar Paris por Lisboa ou Zurich,nunca terás problemas com terrorismo,mas s egosta de arriscar vá para Jerusalém,Paris,Londres ou circule dizendo ser um tenente de uma dessas forças..
    O Brasileiro ainda tem esse complexo vira-lata depois de muitos anos de Globo e midia golpista,me parece que a ficha esta caindo, e vai cair.

  2. antonio

    Certíssimo Zé. A nossa imprensa está dando pouco destaque a Mariana, se comparado com o da França.Vi a pouco um jogo de futebol americano, onde estenderam uma bandeira americana exatamente do tamanho do gramado. Lá eles dão valor ao seu país, coisa que hoje vemos muito pouco aqui no Brasil. Estamos numa situação de quanto pior melhor. Uma região que morreu, um rio que morreu e que ainda pode piorar pois mais represas apresentam problemas. Onde estava a fiscalização, Ministério Público? Os donos não estão nem um pouco preocupados com os brasileiros que moram lá e com o seu meio ambiente, mas sim com os lucros que suas ações propiciam. Povinho esse nosso..

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