20:35Ócio e osso

Do blog Cabeça de Pedra

Ficou viúvo, sem filhos, na casa do sítio. Trabalhava feito um condenado desde que os pais lhe deixaram aquela terrinha. Quando casou, para acabar com a solidão, se ferrou mais. A mulher era um o cão vestindo calcinha. Ele passou a se esfalfar mais no cabo da enxada. Sexo tinha data e hora marcada por ela – e ai se ele não funcionasse! Agora não queria mais lembrar disso. Depois do enterro se jogou na cama e ficou ali lembrando uma conversa que teve com parente da cidade grande. Era sobre um filme parecido com sua vida. O personagem ficou sozinho e nunca mais saiu da cama, do descanso. Um cachorro ia buscar as compras. A um amigo que o visitou, fez encomenda de alimentos para ser levado toda semana. Tinha dinheiro guardado para pagar. Assim ficou, como o do filme, durante meses. Só que o cachorro dele era um vira-lata vagabundo. O bicho ficava ali olhando, comendo uns restos que caíam ao lado da cama, etc. Até que um dia, sem mais nem menos, arrancou dois dedos dos pés do dono com uma só dentada. Gostou. Aí comeu todo o pé esquerdo. Depois, o direito – e continuou se alimentando do resto porque o homem desmaiou no primeiro ataque. O dono do animal não sabia que o ócio deixava os ossos molinhos.

 

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