14:39Eduardo Cunha

por Marcelo Freixo

Contar a história de Eduardo Cunha é como escrever o obituário da Nova República, erguida sobre as cinzas do regime militar. Por isso recorro à metonímia, recurso linguístico em que uma expressão ou palavra é usada para representar uma totalidade. No caso, Cunha é uma metonímia política.

Suas peripécias remontam aos primeiros passos da redemocratização, com Fernando Collor e PC Farias, e passam por escândalos na Telerj, na Companhia Estadual e Habitação do Rio e em Furnas.

Como sua história é longa e o cabedal de escândalos, robusto, atenho-me em sua curta trajetória na presidência da Câmara dos Deputados para mostrar como ele representa o esgotamento do atual modelo de democracia.

Cunha é fruto da despolitização, da intolerância e de uma lógica de governabilidade baseada em acordões fisiológicos que transformaram o parlamentarismo de coalizão em parlamentarismo de extorsão.

O PT não quis enfrentar este modelo ao assumir a Presidência. Lula teve a chance de realizar reformas no sistema político, mas preferiu alimentá-lo. Dilma vive agora as consequências dessa omissão e corre o risco de ser derrubada pelo Congresso que já não se sacia com cargos.

Enquanto isso, parte dos deputados petistas tenta um acordo com Cunha para salvar o pescoço de todos, já que o peemedebista também está na berlinda. A bancada do PSOL fez o mínimo que se espera de um partido, pediu ao Conselho de Ética a cassação de Eduardo Cunha.

Cada vez mais isolado, o governo assumiu uma agenda que contradiz todas as propostas apresentadas durante o período eleitoral. A chamada Agenda Brasil prevê retrocessos como o incentivo ao trabalho terceirizado, a cobrança de taxas para a realização de procedimentos no SUS, a flexibilização da legislação ambiental e a revisão da demarcação das terras indígenas.

Do outro lado, o PSDB aposta na despolitização, num discurso de ética cínico que preserva Cunha para tentar derrotar o governo. É a síndrome da moralidade seletiva.

As denúncias contra o governo precisam ser investigadas, mas o debate político precisa ir além do impeachment. Caso contrário, não conseguiremos compreender as raízes históricas da crise e discutir o futuro do país. Precisamos pensar novas formas de participação social, mecanismos para diminuir a influência do poder econômico na política e superar o fisiologismo.

Ao tratar da Proclamação da República em 1889, o jornalista Aristides Lobo escreveu que o “povo assistiu àquilo bestializado”. Após 126 anos, diante de uma república que se permite ter Cunha na presidência da Câmara, não podemos ficar bestializados. Em nome da res pública, algo precisa ser feito.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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6 ideias sobre “Eduardo Cunha

  1. Sergio Silvestre

    Eu não entendo como um sujeito que rouba descaradamente não é indiciado e nem preso e continua presidente do congresso ,fazendo leis que eu e você temos que cumprir.
    E são leis como aquelas dos extintores,do kit socorro,do selo e vai por ai,são coisas tão absurdas e nós vamos pagando por isso e alguém vai levando um troco por fora,esse ai citado levou 5 milhões de dólares que x 4 da 20 milhões de reais numa só mordida.
    E olha que eu leio por ai ,uns comentários esquisitos onde o cara louva a atitude do gatuno,dizendo que ele quer fazer a limpeza do Brasil,só se for limpar os cofres.

  2. leandro

    Só ele. E os outros, como Rena, Delcídio, tem muita gente que está sendo investigada, até os filhos do ex, por enquanto.

  3. Sergio Silvestre

    Estamos falando de provas cabais,estratos de banco,assinatura nas contas conferindo com passaporte,são mais de 400 milhões.

  4. ricardo

    O Marcelo Freixo caiu na mesmice ao apoiar Dilma no segundo turno. Uma pena. Como diz o Galvão Bueno; “Acabou! Acabou!”

  5. Diogo Lima

    Marcelo Freixo, o famoso fanfarrão. Gostaria de saber se ele já pediu perdãoa família do jornalista da Band que seus amigos Sininho e Cia assassinaram! Se ele já se explicou, sendo parlamentar e devendo ao seu Estado, suas ligações com os bandoleiros que quebram tudo em protestos e promovem greves. Ele é o tal do Jean Williys são dois picaretas, ignorantes, o problema é que a ignorância deles,transformando sempre em boas acoes, causam muitos danos. O nobre Freixo deveria manter-se calado, um defensor de assassinos não pode apontar o dedo a ninguém. Ele e seu parceiro BBB. Que alias, surgiu pelo BBB como defensor do GLS, e não fica envergonhado de usar a boina do Che e defender a Palestina. Che matava sem do artistas, intelectuais e homossexuais. Na Palestina homossexuais são enforcados ou apedrejados. Estes dois não possuem argumentos para apontar seus dedinhos cheios de sangue e sujeira para ninguém. Ver o quanto eles têm mídia no Brasil, mostra porque o país está nesta m, e dela não vai sair tão cedo

  6. Sergio Silvestre

    Diogo,ouvi dizer que na Russia,point do Betinho que eles odeiam Homossexuais,mas adoram um PUTIN.

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