22:41HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Se eu vendesse um livro para cada pessoa que pede para eu escrever um livro, seria um best seller. Pelo menos na rua onde moro. Por que tenho de escrever um livro, cacilda? Devo ter escrito centenas desde que entrei nesta canaleta sem saída de ficar colocando uma letra atrás da outra para ganhar o pão amassado do diabo. Ok, menos que o Simenon, mas mais que o Raduan Nassar. Ninguém sabe o parto de uma bola de basquete que é encadear frases que fazem algum sentido – para mim e, quem sabe, para quem vai ler as mal traçadas. Livro é para quem tem fôlego, talento e saco de escrever livro. Dez linhas é muita coisa! Quando vejo catataus de mais de mil páginas acredito até em milagre. Alguém não pode ficar datilografando tanto. E com algum sentido. E a editora paga, aposta que vai ganhar muito dinheiro – e um monte de gente compra o tal, mesmo que seja só para escorar aquela porta. O máximo de talento que demonstrei a mim mesmo foi quando me transformei em puta velha e toda caída para fazer trotoir numa avenida movimentada, de dia. Foi foda. Sem foda. Não ganhei um puto. Nem escrevendo, nem fodendo. Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire. Saravá Antonio Maria!

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.