6:30Paris, mon amour

por Célio Heitor Guimarães

Se o leitor imaginou que eu iria aproveitar a coluna desta quinta-feira para tratar da mais recente demonstração de estupidez, falta de bom senso e de compostura como gestor público de “sir” Charles Albert Richard (apud G. Must), o “estadista” que habita o Centro Cívico, acertou em cheio.

O episódio, mais do que tudo, se presta para atestar o provincianismo e o despreparo de um jovem imaturo, encantado com o poder e deslumbrado diante do mundo, que a ignorância, a insensatez ou a falta de opção do eleitor paranaense entronizou no Palácio Iguaçu.

O resumo cabe no primeiro parágrafo de um despacho da jornalista Estelita Hass Carazzai, da Folha de S. Paulo, publicado no jornal de terça-feira: “Em meio a uma crise financeira que o fez aumentar impostos e congelar investimentos, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), passou o fim de semana em Paris, hospedado num hotel cinco estrelas, às custas do erário”.

Segundo o noticiário, o pequeno Richa deixou o Paraná na sexta-feira, em uma missão internacional para atrair investimentos da China, Rússia e França. O roteiro oficial começaria por Xangai, na terça. Mas como os encantos de Paris são irresistíveis, a capital francesa, que seria a etapa final da viagem, impôs-se naturalmente para a matuta comitiva paranaense em terras estrangeiras. Não constava do programa e ficaria na surdina não fosse a bisbilhotice da Folha, não obstante tenha custado alguns milhares de euros ao contribuinte do Paraná.

Richinha, dona Fernanda, o assessor Pimentel Slaviero e o presidente da Agência Paraná de Desenvolvimento (estavam acompanhados de empresários e outros servidores, mas esses teriam pago as despesas do próprio bolso) chegaram a Paris no final da manhã de sábado, instalaram-se do Hôtel Napoléon, um cinco estrelas situado próximo ao Arco do Triunfo e à avenida Champs-Élysées – uma das regiões mais luxuosas de Paris –, cuja diária custa cerca de 250 euros (por volta de R$ 1.000) por pessoa. Como não havia compromissos oficiais, a agenda se manteve leve e solta até a segunda-feira.

Descoberta a travessura, a base estratégica mantida no Paraná apressou-se em justificar que a escala parisiense se deveu à tradicional “parada técnica” – muito provavelmente para reabastecer o paladar, a adega e o guarda-roupa do casal Richard e de seus diletos acompanhantes. Parece que há boas ofertas de gravatas Hermès na Rua Saint-Honoré. E sempre haverá novas coleções Chanel, Dior e Lanvin na Avenue Montaine à disposição dos bem nascidos paranaenses.

O garboso Carlos Alberto I, Arquiduque do Igapó, em sua primeira gestação governamental, para conquistar a segunda, garantiu que a casa estava em ordem e a máquina azeitada. Os incautos acreditaram. Na verdade, ele conseguira a façanha de quebrar o Paraná administrativa e financeiramente, metamorfoseando irresponsabilidade em ato de coragem. Em razão disso, no final do ano passado, depois de haver conquistado novo reinado, foi obrigado a impor goela abaixo dos paranaenses, via Legislativo amestrado e Judiciário condescendente, uma série de novos tributos, desobrigou-se de outra série de investimentos, meteu a mão em fundo de previdência dos servidores públicos e passou a taxar os velhinhos e velhinhas do Estado.

Não satisfeito, no correr do mês de fevereiro, numa nova foiçada, ceifou vantagens historicamente conquistadas pelos servidores que lhe sustentam a administração, demitiu professores, pedagogos e até merendeiras escolares, manteve o atraso no pagamento do terço de férias dos docentes e o calote do chamado fundo rotativo, destinado à manutenção das escolas e compra de materiais de ensino, às vésperas do início do ano letivo.

Quando a professorada, cansada de mentiras e promessas não cumpridas, foi protestar nas imediações da Assembleia Legislativa, o grande estadista atiçou a soldadesca da PM, equipada com balas de borracha, cacetetes, gás de pimenta, fatos d’água e pitbulls ensandecidos contra a população armada apenas de ideais, bastonetes de giz e apagadores de quadros-negros. E a “Batalha de Abril” incrustou-se no currículo do elegante mandatário, exterminando de vez com qualquer futura pretensão político-eleitoral do cujo.

Ainda assim, o Estado do Paraná mantém mais de R$ 1 bilhão de dívidas com fornecedores e congelou um quarto do orçamento para pagar essas despesas.

Quer dizer: o menino Richa tem tudo para comemorar. E não há melhor lugar para isso do que Paris, à margem do Sena, à luz de lampiões seculares e em torno de um tinto de boa safra que só a Domaine de La Romanée-Conti é capaz de oferecer.

O filho do “seu” José pode não ser competente, previdente e qualificado para a administração pública, mas sabe aproveitar a vida.

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5 ideias sobre “Paris, mon amour

  1. Oto Lindenbrock Neto

    Caro CH, não por acaso a expressão “bon vivant” é francesa. Parece feita sob medida (prêt-à-porter) para o “garboso monarca” (copyright by G. Must). Um rapaz très chic, esse moço nascido em Londrina mas com os pés fincados profundamente no Batel/Ecoville.

  2. TOLEDO

    Caro Célio, parabéns pelo texto. O Boy de Prédio é um coçador que vive as custas da Fernanda e agora de um tal de erário.
    O Lenadro, o Batelzudo que vai na sauna do Graciosa com ele, não vai defende-lo ?

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