12:26Segundo governo Dilma acaba, mas crise continua

por Igor Gielow

O governo que tomou posse em 1º de janeiro acabou na manhã desta sexta (2), 275 dias depois de começado. Dilma Rousseff ainda é nominalmente a presidente, mas a sucessão de erros do Planalto e o agravamento da crise político-econômica deu à luz uma criatura híbrida: a cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mandar no Planalto, o varejo da Esplanada foi dado de vez ao PMDB.

A principal dúvida é sobre a eficácia do arranjo. Seu objetivo primeiro, travar a abertura de um processo de impeachment contra Dilma pela Câmara dos Deputados, teoricamente pode ser atendido se os 2/3 do PMDB na Casa cooptados com a suculenta pasta da Saúde e outros penduricalhos se contentarem com a fatura paga.

Mesmo isso é duvidoso, dado que a engrenagem do impeachment já está acionada e pode ser acelerada ou não por um personagem central na narrativa política de 2015: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Alvejado mortalmente pela divulgação de suas contas na Suíça, Cunha tornou-se um animal ferido; logo, mais imprevisível e perigoso. Tanto é assim que o Planalto, que discretamente comemora a derrocada de desafeto mais biliar, lhe concedeu uma pasta na reforma _Ciência e Tecnologia, a ser assumido pelo homem chamado de “pau mandado” do deputado fluminense.

Por quê? Porque Cunha pode sobreviver tempo suficiente no cargo para causar danos ao governo. Ele tem o botão do impeachment à mão, e só faltam alguns elementos para ele ser apertado. O parecer do TCU rejeitando as contas de Dilma, que deverá ser aprovado e servir para ensejar condenação efetiva pelo Congresso, é o fator mais imediato pelo qual a oposição espera.

Novamente: talvez os 2/3 do PMDB da Câmara segurem essa onda. Aí Dilma ganha sobrevida para enfrentar seu maior desafio: a crise econômica. Não será nada simples. Acreditar que o Congresso vai assumir para si a impopular ideia de recriar a CPMF é, hoje, um exercício de otimismo.

As medidas administrativas que Dilma anunciou nesta manhã seriam salutares em qualquer momento, como a redução simbólica de cargos comissionados e de mamatas como os voos em primeira classe. Cortar salário de ministro pega bem, mas só.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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Uma ideia sobre “Segundo governo Dilma acaba, mas crise continua

  1. leandro

    Isso aí é reforma administrativa com redução de custos? Isso áí seria a reforma ministerial, com uma economia de boteco da esquina, só 200 milhões .
    Esta reforma ministerial foi feita para dar uma resposta ao povo daquilo que a Presidente prometeu fazer para reduzir custos. Balela, agora só falta cortar o café, o papel higiênico e assim estaremos caminhando a passos largos como o clone da Venezuela.
    Uma reforma que serviu para modificar a maneira de “captar” apoio no Congresso em troca de cargos.
    O pior de tudo isso ainda é de que os nomes dos ministro que assumirão os novos ministérios de acomodação de um toma lá dá cá, a primeira vista seria a mesma coisa desejar que um maratonista disputasse a maratona plantando bananeira.
    Nos dá impressão de que nenhum desse novos ministros sabem bem o que terão que fazer e a briga já vai começar na Casa Civil, com a Secretaria de Governo, sem contar com o pseudo Comunista Aldo Rebelo no Ministério da Defesa que vai exigir reverência ao seu cargo pelos militares.
    Outro ponto que se observa é a similaridade ou continuação dos esquemas de “apoio” do Congresso, pois antes tivemos o MENSALÃO sucedido pelo PETROLÃO, de forma institucional, com maiores valores e explodiu com a Operação Lava Jato que ainda querem “fatiar” e retira o Juiz Sergio Moro que deve estar incomodando algumas pessoas.
    Como ambas a operações cirúrgicas nas finanças públicas anteriores deu problema, criaram outra o MINISTRÃO.
    De tudo isso o Brasil logo irá mudar de nome e passará a chamar-se SUBÓRNIA, nada a ver com a Bósnia, mas tudo a ver com a junção de suborno com esbórnia.
    ]

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