21:35Piripiri

Do blog Cabeça de Pedra

Eu não vim, eu fui a Piripiri. Descobri apenas quando o ônibus parou na beira da estrada no meio do Piauí. O sol rachava o quengo e a cor da paisagem era aquela onde se decifra rapidinho há quantos meses não chove no lugar. Paulo Diniz continuou cantando na minha cabeça – e eu nem sei se a Piripiri dele era aquela minha. E o que importava? Será que o amor dali era como o amor da letra? Caminhante faz parada, a voz rascante sempre cantou. Eu parei. Se apaixona pelo ar. Eu respirei e as narinas foram os dutos para entrar um ar quente no meu peito. Os olhos arregalaram e então eu vi um menino com catarro escorrendo, a camisa abotoada de forma errada, o bucho com o umbigo estufado aparecendo e os pés descalços no chão. Ele me olhava. E os olhos dele eram o mar verde a inundar tudo, a transformar aquela aridez em poesia visual e confirmar que cada amigo ali é um irmão. Ele sorriu pra mim, mas antes limpou o catarro com a ponta da camisa que um dia foi branca. Aí virou as costas e saiu correndo, mas dando uns pinotes numa cena tão alegre, que eu pensei em ficar ali mesmo, mas pedindo licença pra chegar, como na música.

 

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