15:16A Lula, com profunda decepção

por Célio Heitor Guimarães

Volta e meia, especialmente nos tempos atuais, petistas históricos, fundadores do partido, deixam o PT, Lula e Dilma de saia justa. Começou com César Benjamin, que narra o episódio em que os militantes protestavam diante da sede da Rede Globo de Televisão, no Rio, tomando bordoada da polícia, quando deram pela falta de Luiz Inácio. Quando todos começaram a pensar no pior, descobriram que Lula passava bem. Aliás, muito bem, tomando uísque com Roberto Marinho, dentro da emissora, enquanto a companheirada levava pau ali fora.

Depois, vieram Plínio de Arruda Sampaio, Wladimir Palmeira, Hélio Bicudo, Heloísa Helena, Marina Silva… para ficar apenas nos cinco nomes de maior expressão que me vêm à mente. Hélio, só para registrar, é o signatário do pedido formal de impeachment da companheira-presidenta.

Agora, leio na Folha de S.Paulo uma “carta aberta a Lula”, escrita por ninguém menos que (Antonio) Tito Costa, ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP), com destacada atuação durante as greves de metalúrgicos do ABC, durante a ditadura militar, e, por decorrência amigo de primeira hora de Luiz Inácio Lula da Silva. Tito está com 92 anos e não suportou mais a omissão.

Ele diz não pretender falar das greves de 79 e 81, que projetaram o nome de Lula no cenário nacional, e dos dias angustiantes da intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos pelo ministro do Trabalho; nem das reuniões, madrugada a dentro, em seu apartamento, em São Bernardo, com figuras expressivas, como dom Cláudio Hummes, então bispo de Santo André e hoje homem de confiança do papa Francisco.

Prefere, também, não falar dos dias em que acolheu Lula, Marisa e os filhos então pequenos, em sua chácara da pequena cidade de Torrinha, interior de São Paulo, onde viveram horas de aflição e preocupantes expectativas.

Mas lembra dos “primórdios de uma carreira vitoriosa” de um “líder operário que chegou à Presidência da República por um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública e logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e por abusos de condução da máquina administrativa do Estado”.

E aí assinala o começo do “seu [dele Lula] desvio de uma carreira política que poderia tê-lo consagrado como autêntico líder para um país ainda em busca de desenvolvimento”.

“Você deixou escapar das mãos” – pontua Tito Costa – “a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes medidas estruturais na máquina do poder público”. E realça, com firmeza: “Como bem lembrou Frei Betto, seu amigo e colaborador, você, liderando o Partido dos Trabalhadores, abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional.

E continua: “Assim, seu partido – em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância – optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa, que não é a do país”.

Mais: “Enganou-se você com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento”.

“Por isso, meu caro Lula” – acentuou Tito Costa – “segundo penso, você perdeu a oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro líder de um país que ainda busca um caminho de prosperidade, igualdade e solidariedade para todos. Alguma coisa que poderia beirar a utopia, mas perfeitamente factível pelo poder político que você e seu partido detiveram por largo tempo”.

E finaliza, com explícita tristeza: “Agora, perdido o ensejo de sua consagração como grande liderança de nossa história republicana, o operário-estadista, resta à população brasileira o desconsolo de esperar por uma era de dificuldades e incertezas”.

Nada mais disse nem lhe foi perguntado. Precisava?

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4 ideias sobre “A Lula, com profunda decepção

  1. Sergio Silvestre

    Noto que está acontecendo uma rebelião de anciões no Brasil inteiro,desde FHC ,Jarbas Vasconcelos,até chegar no Helio Bicudo
    Eu tenho um filho com 14 anos estou com 60 de idade,suponhamos que eu viva até os 90 ,meu filho terá nesse tempo 44 anos e aquele amor de pai para um menino arrefece,por que não acompanho mais ele nos campeonatos,se for jogador de futebol já encerrou a carreira e talvez eu tenha com ele alguma beligerância,
    Com a chegada do homem do ancinho,nós vamos nos tornando inquietos,queremos gritar mas não sai a voz e na primeira oportunidade soltamos umas perolas,coisas de velho,talvez por no decorrer dos longos anos de existência,a maioria como politico não conseguiu tanto sucesso como seu apaniguado.
    O bom observador tem que ter coerência pela vida toda,e não se tornar um zumbi,desfilando a bordo de uma cadeira de rodas metendo a boca naquilo que apoiou a vida inteira.
    Sempre digo que a politica é arte de fazer desafetos,não existe lealdade,nem amigo fiel,nesse ramo matam a mãe pelo poder,portanto não adianta nós aqui ficar se descabelando que o mundo é assim.
    Amanhã estaremos mortos num saco de ossos como eles,mas eles serão lembrados em solenidades,nomes de avenidas ou até nome de cidades.
    Mas o que ninguém sabe é o que fizeram entre quatro paredes,somente se existir nesse vasto Universo justiça divina para castigar toda essa laia que a vida inteira nos escravizou.

  2. Bittencourt

    Célio: seu poder de análise e síntese são impecáveis. Quando eu crescer, quero escrever que nem você.
    Um abraço do
    Bitte

  3. leandro

    Bravo Silvestre, até que enfim colocou como essa “laia” todos, assim incluindo Lula, Dilma, Requiãoi e outros desafeto teus e hoje em dia principalmente do povo brasileiro.

  4. Clint Eastwood

    O pestismo cumpriu o seu papel histórico, depois que se apoderou do Poder ficou igualzinho aos que antes condenava tanto. O ditado diz bem, dê poder as pessoas aí você saberá como elas são realmente, tanto o Brahma da Silva como a sua companheirada, Mulher Sapiens junto, mostraram como são, nem melhores nem piores do que aqueles que eles tanto condenavam, ladrões.

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