6:39Última chance

Editorial de primeira página no jornal Folha de S.Paulo

Às voltas com uma gravíssima crise político-econômica, que ajudou a criar e a que tem respondido de forma errática e descoordenada; vivendo a corrosão vertiginosa de seu apoio popular e parlamentar, a que se soma o desmantelamento ético do PT e dos partidos que lhe prestaram apoio, a administração Dilma Rousseff está por um fio.

A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir. Precisa, agora, demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo.

Trata-se de reconhecer as alarmantes dimensões da atual crise e, sem hesitação, responder às emergências produzidas acima de tudo pela irresponsabilidade generalizada que se verificou nos últimos anos.

Medidas extremas precisam ser tomadas. Impõe-se que a presidente as leve quanto antes ao Congresso –e a este, que abandone a provocação e a chantagem em prol da estabilidade econômica e social.

Também dos parlamentares depende o fim desta aflição; deputados e senadores não podem se eximir de suas responsabilidades, muito menos imaginar que serão preservados caso o país sucumba.

É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica. Cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes, sob pena de que se tornem realidade pesadelos ainda piores, como o fantasma da inflação descontrolada.

A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais.

As circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro.

Além de adotar iniciativas de fácil legibilidade, como a simbólica redução de ministérios e dos cargos comissionados, devem-se providenciar mecanismos legais que resultem em efetivo controle das despesas –incluindo salários para o funcionalismo–, condicionando sua expansão ao crescimento do PIB.

Embora drásticas, tais medidas serão insuficientes para tapar o rombo orçamentário cavado pela inépcia presidencial. Uma vez implementadas, porém, darão ao governo crédito para demandar outro sacrífico –a saber, alguma elevação da já obscena carga tributária, um fardo a ser repartido do modo mais justo possível entre as diversas camadas da população.

Não há, infelizmente, como fugir de um aumento de impostos, recorrendo-se a novas alíquotas sobre a renda dos mais privilegiados e à ampliação emergencial de taxas sobre combustíveis, por exemplo.

Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa.

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3 ideias sobre “Última chance

  1. leandro

    Tudo que está acontecendo não é nada de novo, somente agora saiu das entranhas do governo e atingiu em cheio a sociedade.
    Uns anos atrás, com a crise mundial já em evidência, com o estouro da bolha imobiliária do Estados Unidos, aqui no Brasil, o Presidente Lula dizia que “,,,, aquela marolinha não atingiria o Brasil….”
    Também negava a existência do mensalão, e deu no que deu. Defendia com unhas e dentes do Zé Dirceu e está aí o resultado.
    A postura de mentir, esconder a realidade foi transferida para sua sucessora que aliás tem a filiação originária do PDT, o que faz Brizola se debater no seu descanso eterno, mas adquiriu o vírus da incompetência do PT.
    Hoje depois das eleição de 2010 a coisa explodiu e sem controle não podem mais enganar a população, não adianta mais falar dos programas sociais, do fome zero, da minha casa minha vida, dos financiamentos para estudantes, dos empréstimos do BNDES etc.
    O Fato est´[a aí e hoje a população sente parte das atitudes mal tomadas no passado não muito distante. Também não há mais a possibilidade da antiga justificativa do Lula, do PT, que tudo era uma herança maldita da gestão anterior, do FHC, pois as 3 gestões anteriores foram deles mesmos, o que faz com isso uma sensação de suicídio na política e na economia.
    O mais interessante, para não dizer trágico, é que ainda o governo, com um de seus maiores líderes, Lula, continua afirmando de forma inconsequente que o rebaixamento do nível de credibilidade do Brasil não representa nada , quando no passado disse o mesmo Lula, com euforia que o Brasil, após ter sido elevado pela mesma agência, se “tornava uma país sério”.
    Hoje se fala em “travessia” quando deveria ser travessura governamental, Hoje se diz que necessitamos equilibrar as finanças públicas. Hoje necessitamos fazer um ajuste fiscal, enfim se fala tanta coisa.
    Uma da afirmativas mais difíceis de entendermos é o da criação de mais tributos para o equilíbrio fiscal.
    Hoje o governo vendo que perdeu a base no Congresso, por incompetência e também por não ter mais o mensalão nem o petróleo , fala em reforma administrativa, com a redução de ministérios e cargos, com tributos provisórios ( papo furado), com ajustes e com a famosa frase de sempre ” precisamos cortar na própria carne”
    Tudo isso é muito interessante, mas esquecem de falar o porque não se procurou investir em infraestrutura de estradas, aeroportos e portos, em geração , transmissão e distribuição de energia, em reserva de recursos hídricos, bem tem mais, mas na realidade o governo preferiu a política assistencialista e com uma atuação meramente politiqueira e de tutela com o “bolsa família”.
    Continua o governo e o PT pois ambos se fundem em desprezar a possibilidade de desmontar diversas entidades estatais ineficientes, que geram cabides de empregos em troca de apoios políticos, e voltam com a mesma retórica da privatização, com o mesmo objetivo de estatizar para controlar.
    O Governo precisa ser reinventado, pois depois que o PT, o Lula descobriram e fizeram o Brasil nada está mais dando certo e ” nunca antes neste país se viu” um governo tão incompetente como se apresenta neste momento, sem decisão, sem rumo e fatalmente tomará medidas de caráter imediatistas para tampar um rombo orçamentário e tempos depois estaremos novamente com o mesmo problema, uma vez que as medidas estruturais não serão tomadas, pois é mais fácil e mais rápido arrecadar impostor , criar mais tributos do que acabar com a ineficiência do governo uma vez que isso pesa politicamente e desestabiliza a meta governamental que é só uma de ter o poder, pelo poder.

  2. jota

    O Governo anuncia o corte de 20 a 35 bilhões. Ainda não o acordo no que cortar. A fobia de cortar por cortar dar uma resposta a população está se encaminhando para algo perigoso e pior do que se encontra. Cortar despesas, cobrar mais impostos sem estruturar o país para dar resposta ao povo e conseguir aprovações no Congresso dando aparência de que agora está tudo acertado é um risco de não dar em nada daqui a pouco estarmos em pior situação do que hoje.
    O Governo, os governantes com uma retórica já de tempos continua sem visão daquilo que se deve fazer, que não é só cortar despesas com a administração, com cargos etc. Precisa criar um meta de estruturar o país para ter o desenvolvimento sustentado sem cair numa nova armadilha.
    O Governo populista vai cobrar mais impostos e manter empresas deficitárias quer pela atividade como pela manutenção de cargos como para uma via de corrupção como a Petrobrás, Eletrobrás, Correios Banco do Brasil, Fundos e aí afora.

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