7:49HELIO TEIXEIRA, ADEUS

A locomotiva parou para descansar nesta madrugada. Ela não foi construída, nasceu pronta com a energia que Deus lhe deu e o talento que desenvolveu para ser o melhor repórter do Paraná. Só posso agradecer porque tive a honra de conhecer e aprender, trabalhando junto ou não. O corpo de Helio Teixeira de Oliveira parou no início deste dia frio. Tinha apenas 65 anos e deixa órfãos aqueles que conviveram profissionalmente com ele, pois era um daqueles raros jornalistas a honrar a profissão pois ela corria junto com seu sangue nas veias. Quando se pensava que ele estava aposentado, era melhor nem pensar, pois seria uma ofensa para ele. Nascido em Palmeira, de que se orgulhava de sempre dizer que era a “Cidade clima do Brasil”, tinha o diploma da Universidade Federal, mas se formou nas redações e foi o líder sem mandar, porque não precisava, era só ter sensibilidade para assimilar o seu jeito de trabalhar. Locomotiva. Chefiou as redações da Veja em Curitiba e no Rio de Janeiro, além de ser editor do Jornal do Brasil em Brasília, no tempo em que essas publicações eram o que de melhor havia no país. Assessorou José Richa, Mario Covas, foi superintendente de Comunicação da Itaipu nas gestões de Euclides Scalco (seu grande amigo) e Jorge Samek, e agora fazia um grande trabalho na Faep. Eu o conheci em 1977, quando aqui vim cobrir férias de Milton Ivan Heller, na revista Placar, onde ele também trabalhou como correspondente. Depois ficamos juntos quando para cá vim definitivamente no ano seguinte. Do time que conheci na pequena redação da esquina das Marechais, já perdi Julio Alipío Beghetto, Pedro Franco Cruz, José Eugenio de Souza, Tereza Urban e, agora, o chefe, o guru. O pouco que aprendi sobre o que é notícia, de fato, foi com ele. O muito que aprendi de dedicação ao trabalho, foi com o Helio. Se eu tinha minhas crises para escrever um texto, ele abria as portas na lata, na hora. Certa vez tive uma reportagem devolvida pela redação de São Paulo com uma lavada de outro mestre, Carlos Maranhão. Recorri ao chefe. Ele pegou o texto, virou pelo avesso e devolvemos. Ganhei elogio que era para ele. Cansei de vê-lo socorrer um repórter que tinha ataques de epilepsia na hora do fechamento e com a reportagem apenas iniciada. A locomotiva sentava à máquina, via o que tinha sido escrito, escarafunchava os garranchos das anotações – e terminava o texto. Começou a ler mais do que os jornais e revistas que devorava mais recentemente. Não foi por falta de literatura que produziu, junto com Pedro Franco, uma das mais reveladoras reportagens sobre Dalton Trevisan, publicada em cinco páginas da Veja. Para fazer isso, leu todos os livros publicados até então. Eu herdei feliz a coleção. Poderia ser o chefe do jornalão curitibano. Nunca pensaram nisso, infelizmente. O fato de comandar assessoria mostrou que jornalismo se faz em qualquer lugar. E quando eu precisava de algum relato da tríplice fronteira, por exemplo, bastava telefonar e vinte minutos depois recebia o texto pronto, acabado e recheado de informações. O cigarro matou Helio Teixeira. Era um fumante compulsivo. Até nisso ensinou a lição sobre o que não fazer. Deixou um vazio que, pelo menos para mim, não será preenchido. Era casado com a Iva e tinha a Letícia e o Fernando, seus filhos que lhe deram um neto cada um, suas paixões mais recentes. Adeus, meu amigo e mestre – e obrigado por tudo.

 

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18 ideias sobre “HELIO TEIXEIRA, ADEUS

  1. marialda

    Zé, doído e lindo. Hoje tem pescaria no céu. Julio deve ter preparado a vara e o anzol. Pedro Franco recostado numa árvores só vai olhar.

  2. Pingback: Helio Teixeira, adeus | Solda Cáustico

  3. Nilson Monteiro

    A morte de um cara como esse, não há quem cubra. Fica um vazio, um imenso vazio.

  4. Helio Puglielli

    Texto com sensibilidade e afeto. Em poucas, mas exatas palavras, delineou o retrato do jornalista falecido.

  5. Isabel Brambilla

    A alegria da assessoria de imprensa da Itaipu… Nosso “Dad”, como era carinhosamente chamado. Um jornalista incrível, como poucos. Um ser humano maravilhos, como nenhum outro.

  6. Célio Heitor Guimarães

    Com a morte de Hélio Teixeira, morremos um pouco todos nós, seus amigos, seus colegas, seus discípulos, seus leitores, seus admiradores. A imprensa brasileira morre muito mais, além de estar ficando cada vez mais órfã. Segue em paz, grande Hélio!

  7. Maria Auxiliadora Alves dos Santos

    Que linda homenagem. O HT mudou minha vida quando entrou na Itaipu . Foi o melhor Superintendente de Comunicaçso Social da Binacional. Eu trabalha como jornalista na Divisao de Imprensa. Absolutamente sem a menor cerimonia olhou com aquele jeito maroto e me disse: Quer tocar esta bosta? A partir daquela hora eu embarcava na locomotiva HT e me tornei Gerente da imprensa . Pra minha sorte foi a mais prazeirosa e gratificante epoca da minha vida. Com o slogan : trabalho , bom humor e cerveja HT quase matou a gente de prazer , de tanto trabalhar com seus loucos desafios bem humorados , criativos e irreverentes. Passou a ser meu Dad e , eu , a sua Nena -fiel e incondicional.parceira de trabalho e eterna amiga. Obrigado por tudo amigao. Nada sera como antes. Com o amor de sempre. Nena.

  8. Ivan Bueno

    Fiquei sabendo agora , agora são 10 horas da noite de domingo, a notícia da morte de um dos meus melhores amigos. Aprendi muito com o Hélio, moramos juntos, na quadra 814 Norte, em Brasília. Cobrimos a Constituite e os momentos mais marcantes que consolidaram a Democracia no país. Viajamos pelo Brasil inteiro cobrindo os comícios pelas Diretas Já. Estou muito triste. O Brasil é o Paraná perderam um baita profissional e um dos melhores textos deste país. Nós, os amigos, perdemos um cara genial, bem humorado, companheiro, parceiro que gostava de ser amigo e ajudar os amigos. Hélio Teixeira que Deus te receba maravilhosamente bem, do jeito que você nos tratou aqui na Terra. Uma boa dose de bourbon pela nossa amizade. e pela falta que você fará na nossa vida. Ivan Buen
    .
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  9. Débora

    Zé beto, você retratou com todo sentimento e delicadeza tudo o q nós, amigos do Hélio, sentimos. Foi um mestre, um amigo, o melhor jornalista, o melhor texto, bom caráter, amigo dos amigos, uma pessoa insubstituível e inigualável. Que D”us ilumine seu caminho.

  10. Regiane Bueno Gonzaga

    COMO É DURO PERDER ALGUÉM COMO VC. A TRISTEZA INVADE MEU CORAÇÃO AO SABER Q NAO TEREMOS MAIS A PESSOA INCRIVEL DO HT. O CHEFE QUERIDO Q TODOS AMAVAM, NOS ENSINOU TANTAS COISAS BOAS, QUE DEUS TE RECEBA DE BRAÇOS ABERTOS.

  11. Izabel Cristina Presni

    Profissional competente; ser humano de coração enorme!
    Jamais será esquecido por quem o conheceu.
    Descanse em paz…

  12. Ivan Schmidt

    HT foi um exemplo de profissional competente, honrado e acima de tudo humano, na medida em que sabia conviver e compreender o semelhante…
    Um dos melhores intérpretes de seu tempo, texto arejado e bem informado, HT (alguém disse acima) poderia ter chefiado a redação de qualquer grande jornal brasileiro. Se não o fez, foi por absoluta falta de tirocínio do patronato… é tarde para lamentar, mas nunca para o adeus comovido a alguém que não passou em vão por este vale de lágrimas…

  13. Simon Taylor

    Nunca estive tão sem palavras. Tristeza imensa.
    Obrigado, Zé, por ter me apresentado o Hélio.
    Foram anos de convivência maravilhosos.
    O “bandolero” estará pra sempre nos nossos corações!

  14. GUMERCINDO SARAIVA

    ADEUS HT.
    Siga em paz. Na paz que sempre pregou e praticou.
    O Paraná perdeu um dos maiores jornalistas das últimas décadas.
    Como já disse alguém que me precedeu, o PARANÁ cada vez fica mais órfão de bons profissionais.
    Vamos continuar valorizando a tua obra e praticando teus ensinamentos.

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