7:57A cabeça dos oligarcas

por Elio Gaspari

Marcelo Odebrecht está preso e foi indiciado pela Polícia Federal. Em sua cela no Paraná, mantém um diário do cárcere. Os barões da Camargo Corrêa foram condenados e, na oligarquia política, fabrica-se uma crise institucional. Houvesse ou não uma Lava Jato, a desarticulação do Planalto envenenaria as relações com o Congresso. Ademais, essa crise tem um aspecto inédito. De um lado, estão servidores a respeito dos quais não há um fiapo de restrição moral ou mesmo política. São os magistrados e os procuradores. Do outro lado está o outro lado, para dizer pouco. Nunca aconteceu isso na vida pública brasileira.

O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, estaria retaliando o governo ao permitir a criação de uma CPI para investigar os empréstimos dos BNDES. Há uma armadilha nessa afirmação. Ela pressupõe uma briga de quadrilhas, com Cunha de um lado e o Planalto do outro. Ou há esqueletos no BNDES ou não os há. Se os há, a CPI, bem-vinda, já deveria ter sido criada há muito tempo. Se não os há, nada haverá.

A verdadeira crise institucional está nas pressões que vêm sendo feitas sobre o Judiciário. Quem conhece esse mundo garante que nunca se viu coisa igual. Se as pressões forem bem sucedidas, avacalha-se o jogo. Cada movimento que emissários do governo fazem para azeitar habeas corpus de empresários encarcerados fortalece a ideia de que há um conluio entre suspeitos presos e autoridades soltas. Ele já prevaleceu, quando triturou-se a Operação Castelo de Areia.

Em 2009, a Camargo Corrêa foi apanhada numa versão menor da Lava Jato. Dois anos depois, ela foi sedada pelo Superior Tribunal de Justiça e, há meses, sepultada pelo Supremo Tribunal Federal. Agora o ex-presidente da empresa e seu vice foram condenados (com tornozeleira) a 15 anos de prisão. O ex-presidente do conselho de administração levou nove. Desta vez a Viúva foi socorrida por dois fatores. O efeito Papuda, resultante da ida de maganos e hierarcas para a cadeia, deu vida ao mecanismo da colaboração de delinquentes em busca de penas menores. Antes, existiam acusações, agora há confissões. Já são 17. A Castelo de Areia não foi uma maravilha técnica, mas a sua destruição será um assunto a respeito do qual juízes não gostarão de falar.

Quem joga com as pretas tentando fechar o registro da Lava Jato sabe que a Polícia Federal e o Ministério Público estão vários lances à frente das pressões. Da mesma forma, quem se meteu nas petrorroubalheiras sabe que suas pegadas deixaram rastro. Curitiba dribla como Neymar. Quando baixa uma carta, já sabe o próximo passo.

Afora os amigos que fazem advocacia auricular junto a magistrados, resta a ideia da fabricação da crise institucional. Ela seria tão grande que a Lava Jato passaria a um segundo plano. É velha e ruim. Veja-se por exemplo o que aconteceu ao vigarista americano Bernard Maddoff: Na manhã de 11 de setembro de 2001, ele sabia que seu esquema de investimentos fraudulentos estava podre. (Era um negócio de US$ 65 bilhões.) Quando dois aviões explodiram nas torres gêmeas de Nova York e elas desabaram, matando três mil pessoas, ele pensou: “Ali poderia estar a saída. Eu queria que o mundo acabasse”.

Madoff contou isso na penitenciária onde, aos 77 anos, cumpre uma pena de 150 anos.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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2 ideias sobre “A cabeça dos oligarcas

  1. Sergio Silvestre

    Imaginem se todas quadrilhas brigassem que confronto épico seria,aqui no Paraná a quadrilha do Abi contra a quadrilha do Fanini,em Minas os Perrelas colocariam a frota aérea para bombardear BH.EM SP Alkmin se aproveitaria do descuido e invadiria o triangulo mineiro e fazia de Uberlândia a capital de São Paulo.
    Em Brasilia em frente a um Palácio deserto duelam o Cunha e o Janot com mediação do juiz Moro e quando pensam que um vai atirar no outro metralham o mediador chato.
    Falando em tornozeleiras os mais afoitos ao pote,aqueles que roubaram mais adornaram elas com brilhantes e esmeraldas,ficaram reluzentes e a Globo as lançará na novela das oito para que a joia combine com os beijos das machorras e os afagos dos homo-afetivos que predominam nos CAST.
    Brasil,tão farto de recursos tão pobre de povo,abra os portões que eu quero sair,quero sair e voltar armado até os dentes.

  2. jota

    O difícil nessas guerras é pegar os generais, sempre se escondem atrás dos soldados, tem exercito de toda ordem, hoje em dia o maior é do PT. O comandante em chefe dessa força expedicionária tem como armar a capacidade de gerar recurso que o povo paga com seus impostos, tem como ação a compra de outros malandros de outros exércitos que estão disfarçadamente em trincheiras opostas mas se locupletem com as munições que o maior exercito fornece através das ações dos seus generais.
    Tem muitos espectadores que se colocam ao largo dessa guerra mas também são feridos, outros esquecem de colocar no mesmo balaio outros e procuram só o lado mais simpático aos seus princípios ideológicos

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