8:26Como resgatar R$ 100 bilhões nas contas secretas de brasileiros no exterior

por Randolfe Rodrigues* 

O projeto que cria o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (PLS 298/2015), elaborado por mim em parceira com Heleno Torres, Professor Titular de Direito da USP, visa a regularização de bens não declarados, de origem lícita, mantidos por brasileiros no exterior.

A ideia originou-se no curso das discussões da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a existência de contas irregulares de brasileiros na agência do HSBC, em Genebra, Suíça. A CPI do HSBC evidenciou algo que muitos já desconfiavam: a existência no Brasil de um universo de abastados contribuintes com contas bancárias no exterior, possivelmente não declaradas ao fisco e portanto não taxadas.

Esses maus contribuintes, que vêm causando um rombo bilionário na arrecadação de impostos no Brasil (estimativas da Tax Justice Network  indicam que as cifras podem alcançar a centenas de bilhões de reais), estavam fora do alcance das autoridades de fiscalização, mas agora sentem o cerco se fechar.

De um lado, assistimos a um mundo no qual não são mais tão raros os vazamentos como o Swissleaks, que podem expor até os mais poderosos e influentes ‘colarinhos brancos’. De outro lado, recentemente, o Brasil se comprometeu definitivamente com o esforço global contra a evasão de divisas, por meio da ratificação do Facta (Foreign Account Tax Compliance Act ), pelo qual Brasil e EUA poderão trocar informações sobre as movimentações financeiras de seus cidadãos em instituições financeiras estabelecidas em ambos os países, tornando mais difícil a ocultação  das transações internacionais e, portanto, a evasão de divisas e a sonegação fiscal.

Outras iniciativas neste sentido estão sendo adotadas também no âmbito da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

O PLS 298/2015 — encampado pelo ministro Joaquim Levy e adotado pelo Governo Federal — trata desse novo cenário, abrindo uma janela de 120 dias para que os contribuintes declarem seus bens ocultos no exterior, permitindo que seja feita a regularização por meio do pagamento do Imposto de Renda devido mais multa,  que deve variar entre 15 a 30%.

As primeiras estimativas indicam que a arrecadação aos cofres da União poderá atingir cerca de R$ 100 bilhões. Recurso esse que, propomos, seja utilizado integralmente para fomentar o desenvolvimento do país.  Nas negociações com o Governo e outros Senadores temos defendido esta posição e as promessas seguem no sentido que sejam criados dois fundos para ajudar os Estados — um deles para compensar as perdas decorrentes da unificação da alíquota do ICMS, o outro com foco no desenvolvimento regional.

É importante destacar que o projeto visa impor justiça tributária, para que os mais ricos que possuem contas no exterior recolham aos cofres públicos 35% desse patrimônio não declarado. Mais ainda, garante a punição, mediante multa, para aqueles que hoje estão impunes — beneficiados pela ineficácia e pela incapacidade do Estado em identificar, investigar e processar esses milhares de maus contribuintes.

Até agora, em regra, quando as autoridades conseguem alcançar esse sonegador para condená-lo criminalmente, aplica-se tão somente uma pena alternativa, como o pagamento de cestas básicas.

Ao taxar em 35% o patrimônio a ser regularizado, o projeto cria uma legítima punição em multa que será cumprida espontaneamente por todos aqueles que queiram regularizar sua situação fiscal. A exceção se dará aos que possuem recursos não declarados oriundos de atividade ilícita (corrupção, tráfico, etc), que continuarão impedidos de aderir ao RERCT e seguirão sendo perseguidos pelas autoridades judiciárias.

*Randolfe Rodrigues, senador pelo PSOL  do Amapá, é vice-presidente da CPI do HSBC

Compartilhe

Uma ideia sobre “Como resgatar R$ 100 bilhões nas contas secretas de brasileiros no exterior

  1. Diogo Lima

    Parada para reflexão….se o dinheiro é licito…por que cargas da agua “repatriar”? Esta turminha que defende estas ideiazinhas não admitem a livre escolha…O Brasil cobra impostos absurdos e investe mal…..os empresários que não gostam de concorrência e são amigos do rei, se aliam em praticas nefastas….ao invés de se preocupar em cumprir a legislação vigente, investigar melhor sem fazer populismo, entre outras medidas, preferem achacar aqueles que enviaram seu dinheiro para fora, para ele voltar para cá…uma coisa é cobrar impostos devidos ao Estado pela transferência, e a origem ser ilícita (mesmo assim, ainda sou contra a parte dos impostos), outra é obrigar o individuo a manter o dinheiro no País… Demais a mais, esta verborragia dessa turma levou todos os Países onde a ideia foi adiante a miséria….e mais uma, o Estado é absolutamente incompetente, corrupto e com uma burocracia nefasta, ao invés de aumentar este dinossauro, deveriam começar a pensar em diminuir o tamanho…mas…não interessa a esta turma…até o futebol estatizaram recentemente…..Este Randolfe cansa, discurso vigarista e populista, e representa um dos Estados mais miseráveis do Brasil….sempre me pergunto…se ele se preocupa tanto com os pobres e afins, porque não doa seu dinheiro ao invés de achacar os outros? Mas, falar isso é feio….e o Brasil cada vez mais indo para o buraco….esta gente não tem o apoio de 90% da população, mas mesmo assim, la estão….

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.