por Bernardo Mello Franco
Os moradores da pequena Mombaça madrugaram, mas não foi de ansiedade. Às 4h, a banda da Polícia Militar acordou o povo com os retumbantes acordes do hino nacional. Era o último ensaio para a visita do deputado Paes de Andrade, que pousaria horas depois como presidente interino da República.
O parlamentar programou a visita à terra natal assim que assumiu a cadeira de José Sarney por alguns dias, em fevereiro de 1989. A comitiva inchou tanto que não coube no avião reservado pela FAB. Ao todo, dois Boeings e um Buffalo decolaram de Brasília rumo ao sertão do Ceará.
De terno azul e óculos escuros, o presidente interino chegou acenando para as crianças, que o esperaram sob o sol forte durante três horas. Foi à igreja, inaugurou uma agência do Banco do Nordeste que já funcionava havia um ano e descerrou uma placa de bronze com o próprio nome.
Na praça principal, um palanque foi montado para o discurso aos conterrâneos. “Não é fácil disfarçar a emoção quando toco as raízes da minha terra. Quantas recordações!”, exclamou o visitante ilustre, com o tom empolado dos oradores d’antanho.
“Terra de políticos! Berço de homens públicos honrados, dignos e altivos!”, prosseguiu. Depois citou as “lições de civismo” herdadas dos antecessores, que enfrentaram “acirradas, duras e ásperas contendas”, “construíram o progresso” e “deixaram um lastro de ensinamentos”.
Declamando palavras de um tio vigário, o presidente interino debulhou-se em elogios ao povo local. “O Ceará tem na fronte o facho luminoso das ideias, no coração os espinhos acerbos da dor.” Por fim, queixou-se das críticas da imprensa à viagem. “Essa era uma visita obrigatória. Tinha que estar aqui confraternizando com vocês, com a alma da minha terra, até para fortalecer as minhas energias espirituais”, justificou-se.
Há dois meses, a Anac desativou o aeródromo de Mombaça, onde pousou a alegre comitiva. Paes de Andrade morreu nesta quarta, aos 88 anos.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Apesar de todas as críticas que recebeu por ocasião da viagem a Mombaça, Paes de Andrade foi uma das figuras mais importantes e combativas na época em que o PMDB estava na linha de frente no combate à ditadura militar instaurada em 1964… jamais teve esse reconhecimento, mas o então deputado federal sempre se comportou como legítimo companheiro de homens da estirpe de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Paulo Brossard, Adauto Lúcio Cardoso, entre poucos…
Se todos os males do Brasil fosse uma viagem de um politico para sua terra e a bordo de um avião pago pelo contribuinte eu me daria por satisfeito a exibição do distinto.
Só ouvi isso que desabonasse o cearense Paes De Andrade,mas no Brasil o negocio e satanizar politicos bons,se existem vamos tratar de exterminar.
Esse Pais gosta de politico safado então eles estão por ai,parecem baratas e o que é piós não tem inseticida que extermina,inclusive seus filhotes.