6:31E lá vai o menino descendo a ladeira…

por Célio Heitor Guimarães

A propósito de meu comentário aqui publicado na semana passada, recebo uma manifestação, gentil como sempre, do caro amigo e bom cearense Antônio Dilson Pereira. Nela, Dilson pontua:

“Chamou-me a atenção a afirmação de sua excelência, o governador: ‘Não tem ninguém mais machucado do que eu nesse momento. Tenho sofrido profundamente nos últimos dias’. Fez-me lembrar de uma entrevista do saudoso senador e poeta Ronaldo Cunha Lima, da Paraíba, que dera um tiro no ex-governador Tarcísio Buriti. Indagado sobre o fato, disse o poeta: ‘Olha, Jô [falava com o apresentador Jô Soares], você não imagina quanto me doeu dar aquele tiro!’. E o Jô: ‘Imagine no Tarcisio…’. É como agora: a polícia desse o cassete nos professores e o governador sente-se machucado…”

Dilson aproveita a oportunidade e vai em frente:

“Outra coisa: você viu que, nessa época em que se governa com o marketing, sua excelência já lançou uma campanha na televisão exaltando a reforma feita na ParanaPrevidência. Seria cinismo ou ingenuidade?”.

Ambos, caríssimo Dilson. A campanha – pífia e esquálida –, paga com o dinheiro do contribuinte, tenta justificar o injustificável e debocha da inteligência do telespectador – aquele que berrou “Fora, Beto” nos estádios do Atlético e do Coritiba e na plateia do Teatro Guaíra.

Todo mundo sabe, especialistas em previdência social ou não, que o menino Beto, até por incompetência administrativa, pouco está ligando para o sistema previdenciário do Estado. Quer é catar dinheiro. Usou mal os recursos públicos durante a gestão anterior, transformou irresponsabilidade em “ato de coragem” e agora está aí, com a água batendo no traseiro. Então, está jogando cerca de 33,5 mil servidores aposentados em um fundo previdenciário com o qual eles nada têm a ver, não contribuíram para ele; contribuíram, sim,  mas para o Estado, durante toda a vida funcional – o que formaria o hoje chamado fundo financeiro, do qual s. exª. quer se livrar –, e que teria por obrigação restituir-lhes a contribuição através do pagamento de aposentadorias e pensões até o final de suas vidas.

Atolado em dívidas até a alma, o menino Richa lançou os olhos cobiçosos para o montante capitalizado pelo fundo previdenciário. Queria utilizá-lo para novos “atos de coragem” administrativa, mas foi barrado pela opinião pública, pela imprensa e, particularmente, pelos professores da rede pública estadual, durante o levante de janeiro deste ano. “Bem, já que não posso subtraí-lo” – deve ter pensado com seus botões, lá no bucólico Chapéu Pensador –, “vou passar para ele a responsabilidade do pagamento de parte dos velhinhos e velhinhas do Estado. Com isso, livro-se de uma despesa mensal de R$ 125 milhões, ou seja, cerca de R$ 1,7 bilhão por ano”. E sentiu-se ladino.

Essa medida, segundo economistas, como Melissa Folmann, presidente da Comissão de Direito Previdenciário da OAB-PR, acabará com o fundo previdenciário em, no máximo, 29 anos. O governo contradiz, acenando com um aporte de R$ 1 bilhão, a partir de 2021, pelo repasse dos royalties da usina de Itaipu. Isto é, conta com o ovo que nem saiu ainda da galinha…

Mas a pretensão do jovem Betinho é contestada também pelo Ministério da Previdência, que considerou irregular a mudança feita por s. exª. De conformidade com parecer do órgão, a transferência do ônus do pagamento das aposentadorias e pensões para as gerações futuras, está “em frontal desacordo com a determinação do equilíbrio financeiro e atuarial” do sistema previdenciário, prevista na Constituição. O TCE pensa semelhante, apesar da interferência do compadre Bonilha.

Eu estava nesta altura do comentário quando soube pelo sempre bem informado Celso Nascimento que o pequeno Richa já surrupiara dos cofres da previdência estadual, na quarta-feira 13, nada menos de R$ 483 milhões, a título de “direitos” retroativos a janeiro de 2015, por conta da lei que alterou a ParanaPrevidência. Nem esperou o mingau esfriar, como sublinhou o bom Celso.

E aí, atropeladas pelos fatos, minhas considerações foram confirmadas antes mesmo de serem publicadas. Precisa dizer mais alguma coisa?

Apenas que o senhor governador, certamente não deve ter sofrido nem um pouco com esse ato nem se sentido machucado por ele… Mas continua indo ladeira abaixo, afundando no lamaçal em que se meteu e enterrou o seu futuro político.

P.S. – E nem quero entrar na recém revelada arrecadação não contabilizada dos R$ 2 milhões para a campanha tucana de 2014. Primeiro, porque duvido que tenham sido apenas R$ 2 milhões; segundo, porque todo mundo sabe que essa prática não é uma exclusividade petista.

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Uma ideia sobre “E lá vai o menino descendo a ladeira…

  1. Oto Lindenbrock Neto

    Caro CHG: o “menino Beto” não leu Sartre. Duvido que saiba quem é Sartre. Deve imaginar que é uma marca de gravata ou um prato da culinária francesa. Mas pratica o pensamento sartreano ao extremo quando diz “o inferno são os outros”. É lógico que a sofisticação do pensamento deve ser creditada a algum assessor palaciano. “O inferno são os outros” é repetido à exaustão com auxílio do teleprompter, aquele equipamento utilizado nos telejornais para que os apresentadores leiam o texto olhando para a câmera. O menino Beto é pouco mais do que uma máquina de repetir frases prontas. Ele é bom nisso, há que se concordar. Mas parece incapaz de pensar estratégicamente. Ficou refém dos Sciarras, dos Justus, Traianos e Mauros Ricardos da vida. Tem a sombra da família Barros a rondar, ávida, esperando o butim do governo. Adotou o discurso do “não sabia” ou “o acusador é um criminoso”, ou ainda ” existe uma campanha sórdida contra meu governo”. Como se vê, o inferno são os outros. Mas os fatos são implacáveis . E o “menino Beto” já passou para a história como o maior embuste da vida pública do nosso estado. Como você mesmo escreveu sabiamente neste blog, “pobre José” . Não merecia seu sobrenome escrito assim na história do Paraná.

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