9:18A conta está barata para o PSDB

por Elio Gaspari

O governador tucano Beto Richa chamou de “bandido” o auditor da Receita paranaense que acusou a caixa da última campanha do PSDB de ter recebido R$ 2 milhões de uma quadrilha de servidores que fraudava crimes tributários. Luiz Antônio de Souza, o autor da acusação, está preso e vem colaborando com o Ministério Público. Ele é réu confesso num crime de corrupção de menores, mas, no caso das fraudes, há outros 14 servidores envolvidos e o ex-inspetor-geral de fiscalização da Receita estadual passou duas semanas na cadeia depois de permanecer foragido por quarenta dias. Deixou a penitenciária encapuzando-se.

Souza confessou ter praticado bandidagens na Receita, amealhando um patrimônio de milhões de reais. Pedro Barusco, o “amigo Paulinho” e os empresários que vêm colaborando com as investigações das petrorroubalheiras também são delinquentes e o comissariado petista atolou-se tentando desqualificá-los. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Souza não citou o governador nominalmente. Mencionou um pedido que recebeu do ex-inspetor-geral e apresentou a nota fiscal de uma compra feita com seu CPF para que 70 divisórias fossem entregues no comitê tucano. Richa preferiu a retórica dos comissários petistas, desqualificando o denunciante. Antes, havia representado sem sucesso contra o promotor que conduz a investigação das fraudes.

O PT está pagando hoje pela promiscuidade em que se meteu ao tempo em que as boquinhas de seus quadros limitavam-se a mordidas em concessionários de serviços municipais. Coisa do século passado, fortaleceu hábitos que desembocaram no escândalo da Petrobras. Quem foi complacente ao julgar as roubalheiras petistas daquela época vê hoje o tamanho de seu engano.

Nenhum grupo político tem o monopólio da virtude, mas todos são responsáveis pela maneira como se comportam diante do pecado.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que “nunca se roubou tanto em nome de uma causa”. O tucanato paulista, contudo, ainda carrega nas costas o escândalo do cartel de equipamentos ferroviários. Em 2008 a Siemens reconheceu que participava de um contubérnio para fornecimentos ao Metrô de São Paulo e demitiu o presidente da sua filial brasileira “por grave contravenção de diretrizes da empresa”. Isso era resultado de uma faxina interna da Siemens e nada tinha a ver com política. Quando ela resolveu colaborar com as autoridades, o governador Geraldo Alckmin anunciou que pretendia processá-la: “As outras empresas não confessaram, mas a Siemens já confessou”. Sendo “ré confessa” devia devolver “centavo por centavo”. Sobrou para quem estava ajudando a Viúva. Passados sete anos, José Dirceu pegou uma cadeia, o “amigo Paulinho” está de tornozeleira, mas ninguém foi em cana pelo velho caso paulista. Até hoje não apareceu prova de que dinheiro arrecadado pela quadrilha tenha ido para a caixa do PSDB. Seria um roubo sem causa.

Rápido no gatilho ao reprimir manifestações de professores, Beto Richa conseguiu o impossível: rivaliza com a doutora Dilma em matéria de desgoverno. No caso das fraudes ocorridas na Receita estadual nos últimos dez anos já há 62 pessoas denunciadas pelo Ministério Público.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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