17:16Urubus

Do blog Cabeça de Pedra

Era apaixonado por urubus. Para ele, os mais belos pássaros do céu. Silhuetas imponentes a planar como reis. Misteriosos por não se saber nem ver como morrem. A capa do disco Urubu, de Tom Jobim, virou um painel do tamanho de uma parede na sala da casa dele. Aprendeu a voar de planador só para ser guiado por eles na descoberta das correntes quentes de sustentação. Fotografava-os no ar e na terra –  e a carapaça que têm ele comparava a elmos medievais. Também via o trabalho que faziam na limpeza da terra. Não gostava do termo carniça que muita gente usava para dizer do que seus amigos se alimentavam. Rebatia afirmando que os humanos também comiam animais mortos – e de todos os tipos. Foi por isso que resolveu atrair seus pássaros para casa. Fez uma caixa em cima do telhado onde jogava bichos e ficava ali, no jardim, esperando a chegada. A vizinhança começou a se incomodar. Com os urubus e o mau cheiro. Depois descobriram que ele matava animais da rua mesmo. Foi preso. Ficou feliz. Da sua cela podia ver um lixão próximo. E eles, às centenas.

Compartilhe

Uma ideia sobre “Urubus

  1. Pingback: Do blog Cabeça de Pedra | Solda Cáustico

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.