8:41Toffoli “põe lenha na fogueira”

Do blog “Interesse Público”, de Frederico Vasconcelos, na Folha.com

Sob o título “Toffoli, o PT e a Lava Jato!“, o artigo a seguir é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O autor assina o texto como “magistrado (de carreira) e cidadão brasileiro”.

Dados biográficos. Dias Toffoli, 47 anos, ex-advogado do PT (em três campanhas presidenciais de Lula), levado à subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República, então comandada por José Dirceu, chegou à Advocacia-Geral da União em 2007, a convite de Lula – seu ‘padrinho’ – e por este indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009. É o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ou seja, um homem de indiscutível digital petista, tornado juiz pelas mãos do representante maior do PT, com cuja história se confunde. Hoje, integrante da 1ª Turma do STF, está a migrar para a 2ª Turma, competente à análise de possíveis futuras ações penais relativas à Operação Lava Jato no âmbito do Tribunal.

Não se discute da possibilidade regimental da medida, para suprir vaga deixada por Joaquim Barbosa e diante da omissão de Dilma Rousseff na nomeação de seu substituto, com vista a evitar empate nos julgamentos (a sempre beneficiar os réus) – já que a 2ª Turma está composta por quatro ministros, número par.

Todavia, nem sempre o que é legal/regimental é oportuno e moralmente aceitável. Até pelas preexistentes intervenções de Toffoli nas coisas afetas às questões político/eleitorais, a pender para o lado do PT, haver-se-ia de dar por impedido de participar de julgamentos afetos a políticos atrelados a Partido e aliados vinculados a governo de sua percebida predileção.

Como homem, que também o é, o ministro não está isento de influências, inda que inconscientemente, suscetíveis de repercutir no seu juízo de valor,levando à eventual dúvida justificável quanto da imparcialidade de sua atuação naqueles julgamentos específicos. Mais que isto, pela dinâmica do STF, com a breve cessação da presidência de Teori Zavascki frente àquela 2ª Turma, Toffoli passará a ser o presidente, encarregado de coordenar seus julgamentos.

No mínimo estranha a conduta de Toffoli, pelos antigos aparentes laços com o PT e seus integrantes, aos quais as decisões muito interessam, ligação que, inda hoje, também aparentemente, persiste. No meio jurídico, sabe-se da total conveniência de que um magistrado, nas condições aqui enfocadas, procure não participar de julgamentos que possam pôr em xeque sua atuação. Isso decorre, até, de regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece.

Seria natural, pois, não procurasse ele a dita migração de Turma, por aspecto contextual visceralmente ligado a seu passado recente. É pôr lenha na fogueira, dar munição à crítica oportuna e eventualmente fundada. E o faz, veja-se bem, na véspera de reunião de última hora agendada com a presidente da República, a durar cerca duma hora e meia.

A opção, associada a esse encontro –-que, na aparência, de casual nada tem-–, fala desfavoravelmente ao ministro, pelas ligações de sempre com o Partido no Poder, a dar pano pra manga. De fato, o encontro pode ter sido fruto de coincidência – ou não. Mas, uma coisa é inegável: qual acontecido, circunstancialmente, dá no que pensar.

Aqui, não se está a levantar teoria conspiratória, tão-só a refletir e ponderar sobre atitudes razoáveis ou não, recomendáveis ou não – por situações quehoje permeiam a vida nacional. Fica a observação, assim, do inusitado do acontecimento, a fugir do padrão comum do que normalmente sucede.

E isso permanecerá, enquanto não se criem mecanismos novos e justos de nomeação de ministros dos tribunais ditos superiores, baseados não na indicação política de um presidente da República, mas no mérito real daqueles que se candidatem ao cargo.

 

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7 ideias sobre “Toffoli “põe lenha na fogueira”

  1. juca

    Depois quando a gente fala, somo da direita, da elite de cabelos claros e olhos azuis.
    Claro que é regimental, mas não moral nem razoável a atitude regimental do ministro.
    Também posso afirmar que os demais que estão na outra turma não demonstraram nenhum interesse em migrar para a 2ª turma.
    Imaginem se um pai, um filho, fossem um ou outro réus em qualquer ação o julgador daquele que esta sendo acusado o que aconteceria com o magistrado perante o CNJ ?
    Em algumas profissões , por exemplo medicina, o profissional não atua diretamente no tratamento ou procedimentos cirúrgicos em parentes, considera anti ético o fato.
    No caso em pauta, há semelhança.
    Mas, enfim, estamos no Brasil, na pátria educadora, na pátria que o povo é mesmo pacífico.
    Nos estamos num pais onde o presidente anterior continua mandando nos destinos do país, onde convoca o MST para combater os que protestam contra a situação atual.
    Onde sob o pretexto de “defender a democracia” se alia a um bandoleiro rural para ameaçar uma represália no melhor e mais afinado estilo de Chavez e Maduro, onde daqui a pouco estaremos beirando o Estado Islâmico.
    Com atitudes e com tudo que vem acontecendo no Brasil nós por enquanto só estamos podendo falar e ainda sob a mira de um patrulhamento .
    .

  2. Zangado

    Artigo irreprochável. Nem tudo que é legal é moral. A demonstrar que o país corre perigo porque a governante e seu partido temem a verdade. O moleiro de Sans Souci pôs sua fé no magistrado de Berlim e foi salvo da violência que o rei lhe cometeu. E nós, em quem esperar, se a mentira está procurando se manter por esses meios? A situação do país é grave.

  3. Cláudio

    Basta que, num arroubo de valentia e zelo processual, o ministério público federal oponha a competente “exceção de suspeição” em desfavor do julgador suspeito. E vamos ver no que vai dar …

  4. Jean

    Belo artigo, concordo plenamente com o ex. desembargador…
    Mas vem cá, na linha de nem tudo que é legal é moral, o nobre magistrado já renunciou ao imoral “auxilio moradia”???!?!

  5. Defato

    Mais um que provavelmente usa o domínio do fato. Julgar pelas notícias de jornal é ser parcial.

  6. Franco

    Esperavam o que do “office-boy” do PT ?
    O STF está aparelhado e não é de agora, encabeçados pela dupla Levandowski e toffoli, a moral,do Excelso Pretório ruiu.

    PS. Só lembrando que o sr. Toffoli estudou pouco, pouquinho mesmo. Ele só fez bacharelado em direito, nem uma especializaçãozinha… Nada. Provavelmente grande parte dos leitores estudaram mais do que ele. Mas ele é ministro… O Ministro office-boy.

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