16:28Um país de 600 mil cargos comissionados

Do JusBrasil:

Patrimonialismo e aparelhamento do poder público (mais de 600 mil cargos comissionados)

por Luiz Flávio Gomes

Estado cleptocrata não é apenas o reconhecidamente governado por corruptos, senão também o governado ou cogovernado por aqueles que buscam extrair da coisa pública vantagens pessoais ou partidárias decorrentes do patrimonialismo, que significa o estatismo abusivo, a confusão entre o público e o privado, o uso do patrimônio público como se fosse patrimônio privado, a troca de favores (favorecimentismo), o favorecimento de setores da economia, o empréstimo de dinheiro público a apaniguados, o empreguismo (sobretudo dos cabos eleitorais e apoiadores), o corporativismo, o clientelismo, o fisiologismo, o nepotismo, o parentismo, o amiguismo, o filhotismo, o “onguismo” (apoios indecorosos a algunas ONGs que fazem parte do aparelhamento do Estado), o emendismo (emendas de distribuição de verbas, reservando-se parte do amealhado para o autor da emenda), o novo peleguismo (dos sindicatos), a cooptação midiática (servidão ou clientelismo midiático), o aparelhamentismo do Estado, o asistencialismo, o bolsismo educacional fundado em interesses eleitorais etc.

Diariamente são incontáveis os exemplos de todos esses malefícios, particularmente os chamados de empreguismo ou filhotismo ou nepotismo ou parentismo ou amiguismo: o prefeito de SP (Haddad-PT), por exemplo, nomeou três amigos do seu filho Frederico para ocuparem o cargo comissionado de assessor técnico no seu gabinete (salário de R$ 3,3); é a famigerada “cota do Fred”! Falou-se em nepotismo indireto (na verdade, trata-se do empreguismo, motivado, no caso, pelo amiguismo). Mais um uso indevido da coisa pública como se fosse patrimônio particular. O fenômeno pertence à categoria mais ampla do patrimonialismo, que é um dos nossos vícios originais. A governadora Suely Campos (PP-RR) nomeou 19 parentes (parentismo, nepotismo e filhotismo). Também o nepotismo trocado virou moda no território nacional (Pezão com Eduardo Paes etc.). Uso do dinheiro público de uma forma tão aberrante quanto qualquer outra forma de roubar. E tudo, “normalmente”, impune, considerado apenas como parte da cultura (do sistema).

No Estado cleptocrata brasileiro o patrimonialismo se revela mais agudamente imoral no excesso de cargos de confiança (nomeação política para cargos comissionados), que dá margem para pressões políticas (fisiologismo), ineficiência administrativa e corrupção, com resultados extremamente maléficos para a sociedade. No nível federal são 22.700 cargos, preenchidos de acordo com escolhas acima de tudo políticas (não técnicas). Os Estados Unidos (diz a reportagem da Época), com estrutura de governo bem maior que a brasileira, têm apenas 8.000. Nos governos estaduais são 115 mil indicados pelos governadores e seus aliados; nos municípios é meio milhão de indicados por critérios que normalmente não aferem a meritocracia. Vejamos o infográfico da Revista Épocaaqui.

Esses cargos servem como moeda política para presidentes, governadores, prefeitos, vereadores, deputados e senadores. São vagas destinadas ao fisiologismo (divisão do Estado para governar), às alianças partidárias renegociadas a cada eleição (retribuição a financiadores, a candidatos não eleitos, a cabos-eleitorais); essa alta rotatividade prejudica, evidentemente, a eficiência da governança. Quanto maior o número de indicações políticas num órgão federal, menor a capacidade de o servidor fazer seu trabalho. A conclusão (recordada pela revista Época) é de um estudo de 2013 com dados de 325 mil servidores brasileiros, liderado pela pesquisadora Katherine Bersch, da Universidade do Texas, nos EUA. “O efeito sobre a administração é devastador”, afirma Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil, que propõe limitar o número de cargos comissionados; em 2011, a pesquisadora Maria Celina D’Araújo, da PUC do Rio de Janeiro, constatou que um quarto dos funcionários federais nos cargos comissionados federais de alto escalão eram filiados a algum partido. Desses, 80% eram petistas (para sustentação do partido no poder uma grande parte dos nomeados pagariam “dizimo”, um “dizimo dialético”). Vejamos: aqui.

Gostou do artigo? Tenho mais informações sobre o tema aqui. Saiba mais

Patrimonialismo e empreguismo público (por Leo Rosa de Andrade)

*Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). 

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5 ideias sobre “Um país de 600 mil cargos comissionados

  1. leandro

    Perfeita análise. Ainda depois de tudo querem fazer ajuste fiscal sem fazer economia e sim tributar para arrecadar mais e cobrir os custos indevidos. Nada há acrescentar ou retirar do texto. Faço uma única observação que mesmo arrecadando de cerca dos 80% dos cargos o PT não ficou satisfeito, pois arrecadou muito mais com o caixa da Petrobrás.

  2. juca

    Lendo a matéria , por sinal totalmente pertinente com o momento e vendo na TV a sessão do Congresso fico pensando, estão até agora mantidos 2 vetos da presidente, um referente a carga horária dos psicólogos e outro das alíquotas trabalhistas de previdenciárias do patrão e empregados. Continuando neste ritmo, com a pressa da mesa do Congresso que espera deputados saírem do recinto para colocar em votação, um fato me deixou intrigado que foi a presença imóvel do líder do governo, aquele irmão do José Genoíno, atrás do presidente da mesa, no caso Romero Jucá, parecia um papagaio de pirata, fiscalizando tudo e dando palpite , fora os cochichos ao pé de ouvido. Bem mas o que interessa é que o governo gastador e bom cobrador parece que vai conseguir manter os vetos que tratam da previdência social e imposto de renda, pergunto: Para isso e os deputados que viviam em seus discursos contra os vetos, fora alguns do PT mudaram de posição depois de reuniões no Planalto? Então quantas Petrobrás ( sim porque a moeda em vigor no Brasil, não é mais o real e sim a petro) vai custar essa mudança?

  3. Indignado

    Está tudo muito bem decupado neste brilhante texto o que resumo sempre no mantra de como se fazer um País de Otários e Canalhas . Anotaram a receita??

  4. João da Silva

    Pois pois….então, que se faça um levantamento….destes cargos em comissão quantos são os que os funcionários não trabalham?(independente das ligações, se políticas, se parentais, etc), segundo, investiguem se se tais cargos são utilizados para angariar uma porcentagem para os chefes, feito isso, coloque no papel quantos funcionários são efetivos pelo Brasil (inclusive professores que ficaram parados 1 mês), e vejam quem onera mais os cofres públicos, veja quem tem mais motivos para cumprir suas funções. O nobre doutor, e os signatários que me perdoem, mas….tirando exceções, cargos em comissão não são o grande mal do País. Basta ver que, recebem muito menos que cargos efetivos. (Analisando só cargos ligados a politicos, Judiciario e legislativo), não possuem segurança nenhuma, não possuem seguro desemprego e afins e, mesmo com muita insistência, é raro encontrar comissionados que não trabalhem, e os que servem para angariar fundos, devagarzinho, estão caindo nas malhas da justiça, juntos com os chefes! Agora, o efetivo, bom…este desanima, faz nas coxas o trabalho, possue segurança, algumas injustificáveis, e seu salário é imensamente superior. Basta olhar as folhas de pagamento e questionar os órgãos para ver quem carrega tudo nas costas!

  5. Fausto Thomaz

    Joao da Silva…..vai estudar, passe num concurso (se eh que vc tem capacidade) e depois venha falar mal de efetivo.

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