por Zé da Silva

Escorpião

Sou infiltrado. É minha profissão. Descobri isso quando ainda era criança. Ficava ali na reunião da meninas – e elas nem notavam. Eu não contava nada para a minha turma de meninos. Sou infiltrado, não ‘cagueta’, dedo duro. Me beneficiei nos estudos. Entrava na sala dos professores sem ser visto sabia tudo que cairia nas provas. Contava para os mais chegados, mas nunca revelava como tinha conseguido. Sou infiltrado e discreto. Alguém, contudo, descobriu esse meu dom. Trabalhei para governos de todo o mundo. Entrava no outro lado, mas não levava de volta pacotes de informação. Matava as fontes. Ninguém reclamava. Quiseram me levar um dia para saber o que ocorria nos bastidores das greves. Recusei. Mesmo porque já estava um pouco velho. Resolvi me aposentar. Até que ela apareceu não sei de onde. Descobri que nunca tinha namorado na vida. Gostei. Mas só até  descobrir que ela era infiltrada. Não me pergunte como. Dei um tiro no meio da testa enquanto fazia amor. Na frente só ficou aquele buraquinho. Atrás o travesseiro ficou tingido de sangue.