6:33Renovação da esperança?

por Ivan Schmidt 

O reinício das atividades da Assembléia Legislativa, com a instalação de novo período legislativo nessa primeira semana de fevereiro, foi marcado por algumas alvíssaras recebidas com mais entusiasmo pela sociedade que o fato da eleição de deputados não participantes da antiga formação, não tantos como seria realmente preciso, mas que sempre trazem um alento de renovação e esperança de moralidade.

Entretanto, o impacto dessa renovação ainda vai levar um bom tempo até ser avaliado na sua medida exata, pois já oferece um patamar para a antevisão das dificuldades a suplantar, tendo em vista o grande número de parlamentares reeleitos, mesmo sob o crivo das suspeitas de envolvimento pessoal com a série de malfeitorias que tisnaram a face do legislativo nos últimos anos. Alguns deles não apenas mantiveram a vaga, mas foram aprovados com louvor no teste da credibilidade pelo esquizofrênico aumento do número de eleitores.

Outra evidência acachapante da aplicação da máxima de Lampedusa de que tudo deve mudar para permanecer exatamente igual e, de quão distantes acabam ficando os arroubos de renovação e transparência, foi o obtuso complexo de manada que parece ter assumido o controle da vontade da maioria absoluta dos deputados, incluindo os eleitos por coligações que terçaram armas contra o candidato vitorioso ao governo estadual.

O que se viu foi uma corrida desenfreada no sentido da quase unívoca coalizão em torno do governador Beto Richa, que na fase de formação do primeiro escalão num dia desmentiu com certa veemência, mas no outro confirmou serenamente a indicação do deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB) para a Secretaria do Trabalho.

Ao que se sabe o PMDB havia integrado, ao lado do PT e PDT, a frente partidária que trabalhou (?) pela eleição do então senador Osmar Dias ao governo. Desses, apenas o PT decidiu fazer oposição a Beto, embora com a diminuta expressão numérica de sua bancada. Pode-se afirmar, então, diante da momentânea composição partidária da assembléia que ele terá uma oposição aguerrida, aliás, uma característica que vai se desprendendo do PT nos últimos tempos, mas tristemente solitária.

Assim sendo, resta motivo para alvíssaras? A resposta é afirmativa, felizmente, e decorre da firme posição tomada pelo presidente Valdir Rossoni (PSDB), decerto com o apoio da maioria dos deputados (alguns deles bastante constrangidos, por óbvio), ao anunciar medidas radicais para sanear os estigmas deixados pela putrefação consentida dos ritos administrativos da chamada Casa do Povo.

Para não ver suas prerrogativas constitucionais enxovalhadas por um grupo de comissionados, que simplesmente confundem a precariedade desse tipo de vínculo com o direito inalienável das dinastias monárquicas, Rossoni viu-se na contingência de solicitar reforço policial, imediatamente autorizado pelo governador, confiando a segurança interna da Casa a um gabinete militar.

Com esse gesto, mesmo que a conjuntura tenha propiciado apenas mera coincidência, o deputado Valdir Rossoni vai passar para a história política paranaense como responsável pela redução dos recentes episódios que transformaram a Assembléia Legislativa numa autêntica casa de tolerância, à sua expressão mais castiça: um caso de polícia.

Não é ocioso, contudo, relembrar um acontecimento bastante similar registrado nessa mesma época no ano de 1983, quando o PMDB elegera a maioria absoluta dos deputados estaduais a cavaleiro da chapa José Richa/João Elíseo. O tom dos discursos era o mesmo: só se falava em moralidade e transparência, pois também naqueles idos havia servidores na assembléia que recebiam o pagamento, mas há décadas não compareciam ao serviço, muitos residindo em outras cidades.

Até um relógio-ponto foi instalado na entrada principal, passando a significar o ícone da nova administração abençoada pela vontade das urnas. O sinete do atual comitê de salvação foi o fechamento da gráfica que imprimia os tais diários secretos. Nunca fui muito bom de contas, mas calculo que não passou tanto tempo assim para tudo cair no esquecimento…

P.S. – Este artigo foi escrito em 3 de fevereiro de 2011 e publicado no extinto O Estado do Paraná, quando se iniciava o primeiro mandato de Beto Richa como governador.

A impressão, quatro anos depois é que quase nada mudou, à exceção de que o deputado Luiz Cláudio Romanelli agora é líder da bancada governista e não mais secretário de Estado.

Quanto ao então festejado esforço de Rossoni (incluindo o escriba) para limpar as cavalariças da ALEP da sujeira amontoada em décadas de mando absolutista, os únicos responsáveis punidos (o que não é pouco) foram Bibinho, então diretor geral e alguns colaboradores próximos. E os outros?

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Uma ideia sobre “Renovação da esperança?

  1. Professor Xavier

    Caro Ivan faço minhas as suas palavras. Mas vejamos, é preciso que tudo mude para que nada mude, não é assim mesmo? Então os 4 anos da administração do Rei de Bituruna logo, e, o mais rapidamente possível, serão esquecidos. Aí os servidores podem voltar ás práticas antigas e, nunca esquecidas, da Casa de Ali Babá.

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