19:46Terror no Carnaval

por Ruy Castro

Alguém ligado ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, ora domiciliado na Polícia Federal de Curitiba devido à Operação Lava Jato, ameaçou processar quem o usasse como modelo de máscara de Carnaval. Os principais fabricantes do gênero, que já tinham começado a produção do adereço, logo pararam as máquinas. Foi pena. Tratando-se de Cerveró, a venda de suas máscaras a milhares de foliões serviria para, finalmente, movimentar algum dinheiro acima de qualquer suspeita.

Pena também para Cerveró. Ele só teria a ganhar se as centenas de blocos do Carnaval carioca saíssem às ruas ostentando a sua cara. Primeiro, porque, ao vulgarizá-la, desapareceria a relativa sensação de estranheza que ela provoca. Segundo, porque, misturando-se ao clima de música, alegria e cerveja, a máscara poderia emprestar alguma simpatia a um elemento que o país detesta e quer ver na cadeia.

No passado, vários políticos se beneficiaram de sua imagem em máscaras de Carnaval. Um deles foi PC Farias, tesoureiro de Fernando Collor e, então, foragido do país. Enquanto a Interpol vasculhava o mundo à sua procura, uma multidão de PCs, muitos de calção e chinelo, abundava nas ruas do Rio. Era engraçado. Outra que lucrou ao ser adotada pelas massas foi a impaciente, impulsiva e inclemente candidata à presidência em 2010, Dilma Rousseff. Pelo menos por algum tempo, as máscaras pareceram atenuar o seu permanente jeitão de maus fígados.

No mínimo, é bom saber que já não dependemos de filmes como “Sexta-Feira 13”, “Pânico” ou “A Hora do Pesadelo” — quase infantis diante de Lula, Sarney, Zé Dirceu —para instaurar o terror na folia. Não tem Cerveró? A indústria vai de Graça Foster.

Mas, como este é o Brasil, o que não tem faltado por aqui são máscaras e até óculos de Cerveró. E, bem de acordo, todos piratas.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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