8:22Oportunidade perdida

O depoimento de Fernando Luis da Silva, ontem, no programa Fantástico, da Rede Globo, sobre a morte do irmão, o engenheiro Dealberto Jorge da Silva, no México, depois do consumo de drogas durante baladas, apenas aumentou a ignorância generalizada que há sobre o problema. Dealberto se jogou de um prédio depois de um surto de perseguição, que Fernando também diz ter sentido. Ele deu entrevista na casa de um advogado, o que leva a entender que uma rede de proteção foi levantada para preservar sua imagem. A dor pela perda do irmão é mais que compreensível, mas dar recado final para os pais de quem estava assistindo ao programa é a mesma coisa que culpar os pais deles pela tragédia, algo muito comum em quem não assume a própria a própria responsabilidade no consumo e suas consequências. É muito comum  em clínicas de recuperação, onde se trata a causa principal da dependência, ou seja, os fatores emocionais que levam o indivíduo a buscar o “mais”, o “fora do normal” ou então tentar fugir da realidade que o incomoda – um clichê que é fato real e só quem consegue voltar a ter o comando sobre a própria vida consegue enxergar depois. A maneira com que foram criados é o primeiro alvo de quem se afundou. Pai e mãe são os culpados. Por que? Ora, porque é mais fácil arrumar culpa de fora pra dentro, assim como crises conjugais, financeiras, profissionais, etc. Em sua maioria, pais criam da melhor maneira que podem e sabem, pois foi como aprenderam. Portanto, fica fácil não se olhar. Qualquer coisa é motivo. Foi o que fez o Fernando Luis da Silva ontem, tirando o dele da reta, assim como tirou ao dizer que só consumiu êxtase, a droga comum em raves e coisas do gênero. Se êxtase causasse paranoia de perseguição, todas as raves do planeta estariam condenadas ao fracasso, porque a multidão entraria em pânico. Êxtase pode matar de uma outra forma, ou seja, pela falta de líquido no corpo em meio ao alucinante gasto de energia. O entrevistado disse que só experimentou poucas vezes a droga na vida. Hummmmmm. Poderia ser mais sincero como foi comprovado em reportagens anteriores onde revelou que ele e o irmão consumiram vários tipos de drogas, como o álcool, o êxtase e a cocaína, essa sim, uma droga que causa paranoia de perseguição a quem faz uso constante e em grandes quantidades, como fazia o signatário. No cinema, há uma cena que retrata bem isso. É do mestre Martin Scorcese em “Os Bons Companheiros”, quando, em meio à loucura do tráfico e do consumo, o personagem vivido por Ray Liotta sai de casa com uma pacoteira do pó e acha que está sendo perseguido por um helicóptero da polícia. Anos atrás, em Curitiba, aconteceu outro caso que pode servir de exemplo: uma mulher entrou no grande canal do rio/esgoto que cuja entrada é pela rua Cândido de Abreu. Ela se dizia perseguida pelos policiais. Na verdade estava noiada de crack, um derivado da cocaína. Tragédias como a do catarinense acontecem diariamente nos guetos de pobreza do país. Chacinas são cometidas para controle de áreas do tráfico. Dependentes são capazes de matar por meia dúzia de pedras ou moedas para obtê-las. Quando há casos como este, que comovem principalmente porque quem vê na te-la fica pensando que aquele que se matou era um “igual”, perde-se a oportunidade de se abordar o problema de uma forma pelo menos razoável. Também por falta de informação de quem está realizando a reportagem, pois o que vale é o apelo emocional. Lamenta-se, claro, mas o número de mortes com origem na mesma causa é enorme, mas parece que a ninguenzada não conta e são como moscas, daí a pasmaceira de quem deveria cuidar do problema.

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3 ideias sobre “Oportunidade perdida

  1. Leo Franklin

    O cara ainda fala das companhias. Ora, meu caro. Foi viajar com o irmão e entrou numa paranoia sem tamanho e quer falar das companhias. Falar que os pais devem ficar atentos. Em quem mais confiar senão no próprio irmão. A russa que esteve com eles chegou a declarar que consumiram Oxi, que é um derivado da cocaína, assim como o crack. Como você mesmo falou Zé, não é o ecxtasy que provoca tamanha paranoia….

  2. Peter Zero

    Meu caro Zé Beto você está coberto de razão , mas quem se importa com os pepepes que diariamente morrem e matam por conta das drogas ? Todos somos iguais, só que alguns são mais iguais, isso explica porque casos como esse causam comoção. abraços

  3. Professor Xavier

    Agora um bando de histéricos está surtando pretendendo a libertação de outro brasileiro condenado à morte por tráfico de drogas. O cara traficava drogas por opção própria, é filho de família rica, não trabalhava porque não queria, não estudava também porque não queria. Agora a mamãe providenciou um laudo dizendo que o cara é esquizofrênico, nos tempos em que cheirava ele não era, mamãe? E foi quantas vezes mesmo para a Indonésia com a prancha cheia de cocaína mesmo? Sou contra a pena de morte, mas se você enfia a mão na jaula do tigre, não reclame depois que ele te arrancou o braço.

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