19:41HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Queria a casa no campo. Tinha o campo, mas era distante. Dois mil quilômetros. Talvez mais, talvez menos. Herança. Os pais morreram e deixaram a tira de terra. Coisa dos avós paternos. Ele  nasceu na cidade gigante. Criado à poluição, leite misturado com água, arroz, feijão, farinha e, de vez em quando, um bifinho transparente. Estudou o suficiente para saber que aquele estudo era insuficiente. Meteu as caras na vida. Descobriu uma profissão. Foi até onde deu. Cansou. De tudo. Lembrou da terra. Imaginou tudo como na música que Elis eternizou, mas que conheceu com Sá, Rodrix e Guarabira. Tinha um pouco de dinheiro. Foi até lá. O sol derreteu-lhe a moleira. Metade do terreno era desertificado. Na outra, limparam quase tudo de pé de pau. Tinha uma jaqueira ali e uma mangueira acolá. Ele olhou e achou que daria jeito. Fez sua casa como manda o figurino da região. De pau a pique. E se instalou. E foi plantando. Havia um açude que ninguém usava mais, mas ele dava uns bons mergulhos. A água encanada chegara há tempo, assim como a luz elétrica e o sinal para telefone celular. Isso ele não quis. Ficou lendo os livros e, mais do que isso, olhando na linha do horizonte uma montanha que parecia pintada a óleo. E assim foi. Em paz – se sentindo gente.

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