7:28Um gibi à moda curitibana

gibicuritiba

por Célio Heitor Guimarães

Enfim, encontrei-o. Há algum tempo, vinha procurando alguma informação, referência ou coisa que o valha sobre uma publicação que conheci na infância. Já estava começando a achar que não passara de uma alucinação da minha meninice, que tal revista nunca existira e que eu apenas fantasiava a sua existência. Mas, como, se, a certa altura, eu até descobrira que o jornalista Pery de Oliveira, de quem eu fora colega, muitos anos depois, em Última Hora, teria sido um dos desenhistas de O Garoto, uma espécie de gibi curitibano que não saíra da minha cabeça?

Incansáveis buscas na internet levaram-me a nada. Aqui, mesmo entre os poucos que ainda admiram os quadrinhos, ninguém se lembrava de O Garoto. Pery, que escapara da sanha da ditadura militar e se enfurnara nos campos de Guarapuava, já não estava mais entre nós. Eu estava quase desistindo quando, por acaso, mas muito acaso, descobri um site do arquiteto e quadrinhólogo – um dos mais destacados da cidade, anos atrás – Key Imaguire Júnior. E nele uma postagem datada de janeiro de 2014, no qual Key se refere exatamente a… “O Garoto – um Gibi Curitibano de 1952”!

Foi uma bruta alegria, que divido com os desmemoriados desta terra.

Key, que é mais novo do que eu e foi um dos fundadores da Gibiteca de Curitiba, conta que foi uma surpresa também para ele encontrar um Almanaque de O Garoto (certamente em um dos sebos desta Curitiba de tantas surpresas). E revela que, editado pela Empresa Editora “O Garoto” Ltda., sediada na Av. Sete de Setembro, 3622, a revista, de periodicidade quinzenal, era marcada pelo “bom-meninismo”, isto é, com “um fundo moralista explícito e, para os dias atuais, ingênuo até os limites”.

Entre os responsáveis pelos desenhos e narrativas – contos, poesias e passatempos –, lá está o nosso Pery, acompanhado por Jack D, Lovato Machado, OFM e Carlos. Entre as criações, Imaguire aponta “Atrevimentos de Dona Mosca”, calcada nitidamente em Wilhelm Busch, o cartunista alemão famoso pelas suas histórias satíricas ilustradas e pai da dupla de diabinhos Max und Moritz, que inspiraria Os Sobrinhos do Capitão, de Rudolph Dirks.

Key destaca, ainda, o formato horizontal da revistinha, o que, diz, “não seria raro se o grampeamento não fosse do lado menor – dando um visual dos antigos blocos de notas”. Isso, segundo ele, considerando a existência de páginas horizontais e verticais, denota certa “falta de coordenação gráfica”.

Oxalá a trilha aberta por Key Imaguire Jr. possa ser utilizada por outros velhos colecionadores de gibis e novas referências sobre O Garoto surjam, ainda que apenas para registro histórico como este.

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Uma ideia sobre “Um gibi à moda curitibana

  1. Bittencourt

    Zé: mais uma vez o mestre Célio dá um banho. E desta vez como arqueólogo contemporâneo, desencavando duas peças preciosas: 1) o almanaque; 2) o Key. Um grande abraço a todos,
    Bitte

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