17:13Primitivo ativo

Do jeito que veio

Blogueiros e escritores voltam a meio “primitivo” da internet para conseguir chegar a seus leitores

Autores adotam a newsletter para garantir a leitura de seus textos e suas ideias; intenção é se aproximar de um público mais comprometido e menos distraído pelas redes sociais

Diversos escritores e blogueiros estão voltando a enviar seus textos através de newsletters para seus leitores. Cada vez mais distraídos pelo excesso de informação das mídias sociais, oferecer a assinatura por email volta a ser uma boa opção para reconquistar a atenção e a fidelidade dos leitores. Depois de quase 20 anos, essa modalidade é retomada como o conteúdo em si, diferente do uso que as empresas hoje costumam fazer dele, normalmente como um meio para uma ação de seu leitor, seja a divulgação de um produto ou conteúdo externo.

Em 1998, direto do túnel do tempo

Uma das primeiras newsletters de que se tem notícia na internet brasileira foi o Cardoso Online, lançada em 5 de outubro de 1998, uma época em que ainda não havia blogs ou qualquer outro meio mais simples de um autor se publicar na rede. Facebook, Twitter e outros não eram sequer uma possibilidade.

A ideia do criador do Cardoso Online, André Czornobai (o Cardoso) foi enviar semanalmente um email a assinantes com textos de diversos autores amigos seus. Teve 278 edições (veja todas aqui) e lançou escritores como Daniel GaleraDaniel Pellizzari e Clara Averbuck.

Outro exemplo notável de newsletter que, com o advento dos blogs e afins, teve seu fim foi o SpamZine, de Alexandre Inagaki.

Finalmente, a partir de meados dos anos 2000, os blogs se tornaram cada vez mais populares no Brasil. Diversos escritores, autores dos mais diversos estilos e blogueiros (palavra que na época era um neologismo), conquistaram um público fiel que enchia suas caixas de comentários com participações pertinentes e debates ricos e interessantes. Os blogs eram também de diálogo entre os próprios blogueiros. A troca de links era frequente e eram comum calorosos debates em artigos que levavam os leitores de um site ao outro.

Cinco autores, cinco newsletters

Com o surgimento das mídias sociais isso mudou. Segundo o jornalista autor Alessandro Martins, isso não é bom nem ruim em si, significando apenas uma mudança de dinâmica da circulação das informações. “Mas diversos autores começaram a se sentir órfãos daquela participação toda que havia”, diz Martins. Para ele, é bom que qualquer pessoa possa emitir suas opiniões, publicar links e imagens em uma mídia social. É muito mais fácil que criar e manter um blog e não exige o mesmo tipo de comprometimento, tanto técnico como também com a veracidade e a qualidade da informação. “Porém, os leitores se dispersaram. É comum você ler um artigo e, pouco depois, nem lembrar do endereço do blog em que você o leu.”

Alessandro Martins desde 2008 vive exclusivamente de seus blogs Livros e AfinsIniciante na BolsaCasas Pequenas e outros. Mas decidiu há um ano lançar sua newsletter, a Íntimo e Careca. Ela é enviada a 6 mil leitores todos os domingos pela manhã.

Com pouco mais de 50 edições, tem cerca de 30 assinantes pagantes (o pagamento não é obrigatório) a R$ 10 mensais. Nas cartas semanais, ele simplesmente escreve sobre sua vida e suas observações sobre o mundo em crônicas confessionais escritas com a leveza que as manhãs de domingo pedem, como se estivesse conversando com seu leitor.

“Espero substituir os blogs pela newsletter em menos de cinco anos, vivendo do que ela me traz direta e indiretamente, e reduzir drasticamente minha participação direta nas mídias sociais”, diz Martins.

Compartilhando o processo criativo

A escritora Olivia Maia (autora de livros como A Última ExpediçãoSegunda Mão e Jamais o Inexistente Sorriso) também adotou a newsletter como meio de comunicação com seus leitores.

Para ela, a grande sacada da newsletter (clique aqui para assinar) é o fato de o leitor precisar assinar para começar a receber. “É um comprometimento: ele está permitindo que o escritor frequente a sua caixa de entrada, um espaço que sempre verifica duas, três ou mais vezes por dia”, diz Olivia Maia. Diferentemente de um endereço de um blog qualquer que, para ser acessado, depende-se de que o link surja no Facebook ou no Twitter ou de que o visitante digite a URL na barra de endereços.

Olivia, em sua newsletter, além de contar suas aventuras de viagem, aproveita para compartilhar com esse leitor mais próximo o seu processo criativo, contando para eles os dilemas de seus relacionamentos com os personagens e narrativas.

Participações mais generosas que nas caixas de comentário

O escritor Alex Castro também usa a newsletter (assine aqui) para divulgar suas ideias e seus textos. O meio de comunicação também é uma eficiente forma de divulgar seus cursos. Como o material que envia é similar àquele tratado em seus encontros As Prisões, a newsletter é uma ferramenta muito eficaz de divulgação.

“Para mim, como produtor de conteúdo, poucas coisas têm me dado tanto prazer quanto o meu newsletter”, diz Castro. “Ao contrário das caixas de comentários, que estimulam a agressividade e onde muitas vezes os comentaristas ficam se mostrando uns aos outros tentando ‘ganhar’ a discussão, as newsletters promovem um contato ao mesmo tempo mais próximo e mais generoso, especialmente em relação ao feedback.”

Só pagando

O blogueiro Rodrigo Ghedin está mantendo uma experiência única: para receber a sua carta semanal o leitor precisa pagar US$ 3 por mês. Ele é editor de O Manual do Usuário e já escreveu em blogs importantes de tecnologia como o Gizmodo, TechTudo e MeioBit. Também se rendeu à eficiência de comunicação da newsletter. Para ele, além de pagar os custos de redação, pesquisa e envio, o conteúdo pago garante um comprometimento ainda maior entre autor e leitor, além daquele que as newsletter naturalmente têm.

Só para os íntimos

Uma das newsletters mais originais atualmente é mantida pelo autor Bruno Cuconato. Estudando em Paris, ele envia periodicamente notícias sobre sua estada usando um jeito muito peculiar de escrever e grafar as palavras. “Escolhi a newsletter – ou simplesmente carta, como nós news-carteiros gostamos de pensar – por ser um meio mais intímo e mais reservado de contar pra pessoas amigas e pra família como está sendo meu intercâmbio em paris. Um blog seria obrigatoriamente público, o facebook não permite um contato profundo o suficiente, e mandar cartas pelo correio seria muito caro!” Independentemente das intenções do escritor, mais pessoas além de seus parentes e amigos o leem apesar de sequer ter uma página pessoal: a assinatura deve ser feita no próprio serviço que ele usa para enviar seus emails.

Como criar sua newsletter

Você pode enviar a partir de seu próprio email, mas isto dificulta a inscrição dos leitores e limita a quantidade de mensagens que você pode enviar a cada vez.

O ideal é usar alguns serviços disponíveis na internet. Um dos mais populares é o Mailchimp. Até 2 mil destinatários ele é gratuito e a partir daí as taxas vão ficando altas.

Para números maiores de destinatários, o ideal é o Sendy, que usa os serviços de web da Amazon. Embora seja complicado para instalar (precisa ficar residente no servidor do usuário), tenha menos recursos que o Mailchimp e outros serviços de envio, ele reduz bastante os custos com envio, sendo até 100 vezes mais barato.

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